São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Selo lança jazz graças à dance music

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Um aparente lixo cultural dá origem a ouro sonoro. A pequena gravadora Paradoxx de São Paulo começa a lançar neste mês o catálogo da Charly Records, de Londres, um dos mais importantes em jazz, blues e rock, graças ao lucro obtido com lançamentos de coletâneas de dance music.
Saem até o fim do mês 49 títulos da Charly pela Paradoxx, entre álbuns, coletâneas e as célebres caixas da Charly, com livretos e informações detalhadas sobre as circunstâncias de produção.
A Paradoxx se notabilizou em um ano e meio de atividade por lançar coletâneas de dance (febre no circuito "underground" de São Paulo) e CDs de rock alternativo e samba –áreas desprezadas à primeira hora pelas grandes gravadoras e hoje incorporadas a seus suplementos.
O catálogo já possui 82 títulos, 75 deles de dance, quase todos vindos de produções independentes européias, especialmente no estilo "italo" de Milão (a Itália possui atualmente 500 produtores independentes de dance e fornece material para o mundo todo).
A gravadora começou a operar em outubro de 1993 vendendo 3.000 CDs por mês. Hoje chega à média de 70 mil unidades mensais e um volume anual de vendas de R$ 600 mil.
Uma gravadora de grande porte vende três vezes mais ao ano. A Paradoxx já pode assumir uma condição de médio poder, uma espécie de contrapeso entre as "majors" e as independentes.
Entre os lançamentos deste mês estão o segundo disco do grupo de rap Pavilhão 9 (leia texto abaixo), o do grupo mineiro Samba K e aquele em que a Paradoxx aposta como o bacilo mais poderoso do verão: o CD "Forró Dance-Reggae (including remixes versions)", estréia do forrozeiro paraibano Genival Lacerda no gênero dance. Genival regravou seus sucessos –como "Ela Deu o Rádio" e outras turmalinas da escatologia– em produção dançante.
"As vendas de coletâneas de dance e nosso marketing agressivo permitem hoje que comercializemos produtos de maior qualidade", diz o empresário Sílvio Arnaldo, 38, dono da gravadora.
O contrato entre as duas companhias aconteceu em novembro último. Segundo Arnaldo, o namoro foi longo. "A Charly procurou as grandes gravadoras, mas chegou à conclusão que a nossa tinha mais agressividade."
No acordo, criou-se uma "joint venture", a Charly Brasil, com metade do capital para cada empresa. Como resultado, a Paradoxx começa a fabricar e distribuir nacionalmente os 600 títulos da Charly e do selo subsidiário Chess, sem renunciar à dance.
"A dance desbancou o rock na mainstream nacional", decreta Arnaldo. "Vai dominar enquanto existir uma pista de dança funcionando no país. Já não existem casas noturnas da moda em que bandas de rock possam tocar."
A gravadora conta com dezoito funcionários e 30 vendedores em todo o Brasil. No início, as caixas terão parte do material importado, como livretos e capinhas. CDs e caixas de plásticos serão produzidos no Brasil.
"O segredo do negócio está na nossa experiência de 20 anos em grandes gravadoras", diz Arnaldo, que trabalhou na Polygram e na Odeon durante os anos 70 e 80.
Aprendeu, diz, que uma gravadora menor deve ter política de vendas, catálogo amplo –do samba ao rap– e sensibilidade para adivinhar os desejos do mercado.

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