São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Só lama sobra do Woodstock versão 94

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Restou muita lama e pouca alma da edição comemorativa dos 25 anos do festival de Woodstock.
O álbum duplo em CD recém-lançado no Brasil pela Polygram com seleções musicais dos três dias do evento (melhor chamá-lo de passamento, ou sinistro), realizado em agosto último a 30 milhas do local genuíno, perto de Nova York, demonstra sobejamente a enlameadura sonora.
Tudo não passou de um longo e tenebroso coquetel de bandas pós-heavy metal, grupos falsários de rap, hypes do Lollapalooza e geriatras do rock (Bob Dylan, Joe Cocker e Crosby, Stills & Nash, socorro!). Só poderia resultar em desmazelo, em ruído, em pó (molhado), em nada.
Os 350 mil bestalhões maconheiros de 1969 deram lugar a igual número de exibicionistas das "smart drugs", gente pelada chapinhando nos charcos e cabeleiras arranjadas com brincos e bandanas. Uma nojeira pior do que a original, corroborada pelo grotesco som ambiente.
Comprar os dois CDs é mais ou menos como levar para casa um copo de barro da fazenda, pelo qual se pagou US$ 2 numa crise de nostalgia durante o festival.
É doloroso ouvir o grande Dylan grunhindo uma canção nova no pântano de mediocridade que não é capaz de entendê-lo. Dylan acertou ao não comparecer ao primeiro festival. Pagou caro por estar no segundo. Sua interpretação de "Highway 51" é pregação no deserto de idéias.
Outro instante menos mal foi da Rollins Band em "Right Here too Much". Enquanto houver um punk honesto no mundo, como Henry Rollins, as vacas ficarão livres de disputar espaço com públicos de shows de rock. O daquela noite estava na fila do banheiro durante a apresentação de Rollins, que pôde ser rebelde sem ser importunado.
Gritaria por todo lado. As bandas de último tipo, como Primus, Jackyl e Nine Inch Nails, mostraram saber gritar "fuck you" para o público. E os punks de shopping chamados Green Day? Só enganam crianças de 10 anos com seu hardcore sem cor.
A cantora Sheryl Crow, hype do Lollapalooza, quis brincar de blues visceral e se deu mal porque o fantasma de Janis Joplin lhe puxou as cordas vocais durante a interpretação de "Run, Baby, Run". Saiu tudo roufenho, com notas erradas para as vaias certas.
O Woodstock da "geração X" merece ser riscado de qualquer discoteca de bom gosto. Não se pede bis à história.

Disco: Woodstock 94
Lançamento: Polygram
Quanto: R$ 80

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