São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Ex-técnicos da seleção dirigem finalistas

EDGARD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois finalistas são comandados por ex-técnicos da seleção brasileira feminina. Antônio Carlos Barbosa, 49, dirige a Cesp. Maria Helena Cardoso, 54, é a responsável pela Nossa Caixa.
Coincidentemente, ambos cobriram quase toda a trajetória de Paula e Hortência, as mais destacadas jogadoras da história do basquete brasileiro, na seleção.
Entretanto, nenhum deles estava com o time quando Paula e Hortência se sagraram campeãs mundiais na Austrália-94.
Barbosa lançou a dupla na equipe nacional em 76 e ficou na seleção até 84. Foi quinto no Mundial-83. Maria Helena dirigiu de 86 a 92. Levou o Brasil pela primeira vez a uma Olimpíada (Barcelona-92) e foi campeã pan-americana em Cuba.
Em entrevistas à Folha, ambos comentaram a decisão.(EA)

Folha - Esta é a final mais equilibrada dos últimos dez anos?
Barbosa - Exceto no ano passado, as finais sempre foram equilibradas. Talvez o nível técnico esteja mais elevado. Há experiência, juventude e jogadoras estrangeiras de alto nível.
Maria Helena - Creio que sim, porque as duas equipes contam com jogadoras de bom nível.
Folha - O que deve prevalecer na disputa?
Barbosa - A vantagem será do time que entrar mais no jogo e não desperdiçar as oportunidades.
Maria Helena - Os jogos serão decididos nos últimos segundos. As jogadoras dos dois lados são maduras em decisões. O equilíbrio vai despertar o interesse fora das quadras, dos torcedores.
Folha - Sua equipe está bem entrosada?
Barbosa - Está. É lógico que, pelo pouco tempo de treinamento, não com um rico padrão de variantes ofensivas e defensivas.
Maria Helena - No geral, a Ponte está bem entrosada. Ficamos praticamente cinco meses sem a Hortência. Ela voltou recentemente e, quando está no time, a estrutura de jogo muda.
Folha - Há quanto tempo o time atual está formado?
Barbosa - Formado, há oito meses e junto, treinando, há seis. Paula, Alessandra e Adriana, que estavam na seleção, só chegaram no final de junho.
Maria Helena - A espinha dorsal da Ponte foi alterada, com a saída da Nádia (armadora, atualmente na Lacta) e da Paula. Reconstruí com a Helen e a Roseli, chamadas para as posições. Outra alteração é que parte do grupo estava acostumada com a Paula na armação.
Folha - O sistema da decisão, melhor de cinco jogos, é o ideal?
Barbosa - Três seriam pouco. Com cinco haverá mais justiça. Haverá equilíbrio e a vitória será garantida no detalhe.
Maria Helena - Eu gosto, avalia melhor. Com menor número de jogos, uma derrota, mesmo que no último segundo, compromete demais uma equipe.
Folha - A maratona de jogos, quase sem folga, prejudica?
Barbosa - Nossa equipe tem boa consistência física, mas não tem grande número de jogadoras para revezar e manter o nível.
Maria Helena - A quantidade de jogos é boa e a falta de intervalos maiores, entre um e outro, ruim. São precisos pelo menos dois dias para recuperação.
Folha - Qual é a principal virtude do adversário?
Barbosa - O conjunto da Ponte é forte, revezamento constante e uniforme. Tem ainda as estrelas que podem desequilibrar jogos, como Hortência e Karina.
Maria Helena - Os valores individuais de alto gabarito técnico, em especial a base, Paula, Branca, Cathy, Jacqueline e Adriana.
Folha - Qual é a maior virtude do seu time?
Barbosa - Consegue reverter situações e é forte fisicamente. A Paula é a líder, mas as outras quatro titulares assumem a partida. O time não depende de apenas uma jogadora. A Paula é a cestinha, mas os pontos estão distribuídos.
Maria Helena - É a rotatividade. O conjunto tem jogadores experientes e novatas com potencial. Pode jogar 40 minutos em ritmo forte.
Folha - As jogadoras estrangeiras são fundamentais?
Barbosa - É diferente. Elas se tornaram fundamentais, se adaptaram ao esquema e rendem. A Cathy era jogadora olímpica dos EUA e a Jacqueline, uma pivô baixa, se enquadrou no esquema e cresce de rendimento.
Maria Helena - Sem dúvida. A Karina está conosco há sete anos. A Adrienne, eu trouxe para o Brasil em 91. Ela jogou em outro time. São espetaculares.
Folha - O Brasil foi campeão mundial. Algo mudou?
Barbosa - Se mudou, não deu para sentir, nem mesmo em número de praticantes. É um bom momento para a modalidade receber maior atenção da mídia. As grandes jogadoras continuam sendo Paula, Hortência e Janeth.
Maria Helena - Nada, no basquete doméstico. Mudou no plano internacional. Passou a ser mais respeitado. Talvez os problemas políticos e a conquista do tetra pelo futebol tenham abafado a conquista. Lamento os clubes não terem aproveitado a chance para incentivar o trabalho de base.
Folha - Paradoxalmente, no ano do Mundial, o Estadual teve apenas cinco times. Foi ruim?
Barbosa - Prejudicou. A conquista poderia ter sido melhor aproveitada. Na verdade, nunca tivemos mais do que três equipes lutando pelo título. Por isso, não se justifica a ausência de outros times. As equipes médias preferiram a série A-2, mais fraca. Aí sim, houve mudança de mentalidade.
Maria Helena - Pelo menos três times –Bauru, São Caetano e Rio Preto– poderiam ter ficado na série forte. Haveria mais competição. Espero que melhore.
Folha - Existe temor da perda do patrocínio estatal?
Barbosa - É motivo de preocupação. Seria traumatizante. Das 12 campeãs mundiais, 8 jogam sob patrocínio de estatais. O ideal seria um aviso prévio. Pelo menos, parcialmente, o investimento deveria ser mantido.
Maria Helena - Existe sim. As estatais não podem demorar para decidir se vão ou não continuar apoiando. O basquete feminino nunca teve falta de investidor. O problema é o tempo para entrada de novos patrocinadores.

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