São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nelson Pereira filma 'Melodrama' no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O cineasta Nelson Pereira dos Santos iniciou anteontem no Rio as filmagens de "Melodrama - O Cinema de Lágrimas na América Latina".
O filme representa a América Latina no projeto "O Século do Cinema", coordenado pelo British Filme Institute, órgão do governo britânico.
O projeto dividiu o planeta em 18 cinematografias, que serão representadas em documentários de cineastas como Martin Scorsese (EUA), Nagisa Oshima (Japão) e Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville (França).
Na sequência inicial do filme de Nelson, um dos fundadores do Cinema Nova, há suicídio, mistério e pesadelo –elementos típicos do melodrama, o gênero lacrimejante que fez sucesso na América Latina entre os anos 30 e 50.
A cena, rodada num casarão da Glória (centro do Rio), mostra o garoto Rodrigo (Patrick Tannus) pedindo que sua mãe (Cristiane Torloni) o leve ao cinema.
Ela se recusa e depois comete suicídio. A cena, em "flashback", é um pesadelo de Rodrigo, aos 65 anos (Raul Cortez). Ele decide então descobrir o filme que sua mãe vira antes de morrer.
O personagem busca nas cinematecas do Brasil e do México o filme que é a chave do mistério –que Nelson faz questão de não esclarecer. "Quem vir o filme vai saber", disse.
Na pesquisa do personagem, vão surgindo melodramas como "Dona Diabla" (México), "Pobre mi Madre Querida" e "Arminho Negro" (Argentina) e "La Renegada" (Cuba).
Os trechos dos melodramas vão somar 38 minutos do filme. "Só eu vi mais de cem para escolher os que vão aparecer. Foi difícil resumir cem anos, só a ficção me permitiu isso", disse o cineasta.
Nelson Pereira dos Santos disse que a homenagem ao melodrama mostra o reconhecimento a um gênero que conseguiu ter público na América Latina e concorrer com o cinema norte-americano.
"Não foi a minha influência primeira, nunca fiz melodrama. Esses eram os filmes da minha mãe, que eu sempre critiquei."
"Melodrama" ganhou título e inspiração a partir do livro da historiadora argentina Silvia Oroz. A versão para televisão terá 52 minutos e será exibida em TVs do mundo inteiro. A versão para o cinema terá 90 minutos e será distribuída pelo Rio Filme. No Brasil, a exibição dos filmes de "O Século do Cinema" está prevista para o segundo semestre.

Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch
Próximo Texto: Livro e filme debatem morte do diretor Pier Paolo Pasolini
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.