São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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"Mãos Limpas" vai virar partido

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Está sendo criado o movimento "Mãos Limpas", para servir de trampolim político ao juiz-promotor Antonio Di Pietro, disse ontem o diário italiano "La Repubblica". A notícia foi divulgada quando a crise política italiana chega a fase decisiva.
A entrada na política do magistrado que simbolizou a luta contra a corrupção, que apresentou sua demissão há um mês, era considerada uma questão de tempo.
O nome do novo partido, copiado da operação judicial anticorrupção que sacudiu a Itália nos últimos anos, foi registrado legalmente faz seis meses, mas mantido em segredo até agora. O partido já teria 40 sedes em todo o país.
O próprio Di Pietro ainda se mantém em silêncio. O jornal romano diz que ele está disposto a encabeçar a nova agremiação com a condição de que ela mantenha uma linha de independência em relação aos outros partidos políticos já existentes.
O objetivo declarado da operação política é tornar Di Pietro primeiro-ministro no futuro.
Apesar dessa falta de pressa, o nome de Di Pietro tem sido frequentemente citado durante a atual crise de governo como candidato "institucional" –isto é, sem pertencer a partidos políticos– para receber o cargo do presidente Oscar Luigi Scalfaro.
Dirigentes da oposição, desde o centrista Mario Segni ao líder dos ex-comunistas, Massimo D'Alema, passando pelo dos ex-democrata-cristãos, Rocco Buttiglione, acham que Di Pietro seria um bom substituto de Silvio Berlusconi.
O atual premiê apresentou sua demissão em dezembro passado antes de sofrer moção de censura.
Várias pesquisas publicadas nas últimas semanas dizem que a maioria dos italianos prefere Di Pietro como próximo primeiro-ministro.
Berlusconi, investigado pelos magistrados anticorrupção, se apressou a responder que conta com respaldo popular, obtido nas últimas eleições em março, e que o chefe de governo "não pode ser qualquer um".
O chefe de Estado Scalfaro, recuperado de um forte resfriado, convocou Berlusconi para uma consulta decisiva hoje. Scalfaro também programou uma segunda rodada de conversações com dirigentes partidários para amanhã, quando tentará formar um novo governo.
Berlusconi, magnata dos meios de comunicação, tem pressionado o presidente para que convoque eleições antecipadas no fim de março, primeiro aniversário do pleito em que foi eleito com uma maioria esmagadora de votos.
Outra reunião poderá afetar o destino da crise. O Tribunal Constitucional se reúne hoje para decidir sobre a convocação de referendos sobre o sistema político. A decisão deve ser tomada em uma semana.
Os referendos, caso aprovados, seriam feitos entre abril e junho, o que condicionaria o calendário eleitoral dos próximos meses.
A celebração dos referendos é incompatível com a dissolução do Parlamento, o que abriria caminho à formação de um governo de transição que evite eleições imediatas.

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