São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Motta afasta diretor de fiscalização

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, 53, iniciou o processo de mudanças em sua pasta exonerando, na semana passada, o diretor do Departamento de Fiscalização, Mário Cesar Degrazia, tido como um exemplo de honestidade no serviço público.
Degrazia, 48, ficou conhecido entre seus colegas por ter recusado, na Justiça, um "brinde de Natal" que uma empresa do setor de telecomunicações havia lhe enviado em 87: um pacote de dinheiro equivalente a US$ 7,2 mil.
Homem forte do setor de fiscalização do ministério durante 15 anos, Degrazia se apresentou ontem ao seu órgão de origem (assessoria jurídica), onde procurava uma mesa para se instalar.
Em dezembro de 87, a empresa Jokitronik, fabricante de equipamentos de telecomunicações, enviou à casa de Degrazia um pacote com Cz$ 500 mil (equivalente a US$ 7,2 mil) –dinheiro suficiente para comprar 83 litros de uísque.
Junto, havia um bilhete: "Nossa lembrança é de todo coração, não sendo o que o senhor vale e nem merece, mais (sic) é um pouco do nosso coração".
Degrazia denunciou o fato ao então ministro Antônio Carlos Magalhães e o caso foi parar na PF (Polícia Federal). O processo se arrastou por um ano e meio e Degrazia teve que depor duas vezes.
Na época, a empresa –que dependia do aval de Degrazia para ter seus equipamentos licenciados– alegou que o dinheiro não era propina, mas brinde de Natal.
Apesar de ter qualificado de imoral o presente da Jokitronik, o Ministério Público Federal não encontrou nenhum impedimento legal para que a oferta fosse aceita.
"(O brinde), enquanto 'presente de Natal', não pode ser qualificado de indevido", escreveu em seu despacho o procurador Oswaldo José Barbosa.
O dinheiro foi colocado à disposição de Degrazia, que teve que escrever uma carta à Justiça recusando-se a receber o "brinde".
Degrazia conta que sofreu pressões para retirar a denúncia, pelo fato de a empresa estar participando de licitações de outro órgão público. "Durante todo o processo, o então ministro ACM me deu todo o apoio necessário para irmos até o fim", disse.
Funcionário do ministério há 21 anos, Degrazia ainda não sabe o que irá fazer, nem sequer a mesa que vai ocupar. "É natural o processo de troca de chefias quando muda o goveno", diz.

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