São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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BC assume Produban na segunda-feira

GUSTAVO PATÚ

GUSTAVO PATÚ; ARI CIPOLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ARI CIPOLA
O Banco Central assumirá na próxima segunda-feira o controle do Produban, de Alagoas, e de um outro banco pertencente a um Estado da região Centro-Oeste.
Os dois passarão por um regime de administração especial temporária, a exemplo do decretado para o Banespa e o Banerj no final de 1994. O regime só acaba quando os bancos forem saneados, federalizados ou privatizados.
"O banco continuará funcionando normalmente, mas sob a administração do Banco Central e de técnicos nossos", disse à Folha o secretário da Fazenda de Alagoas, José Pereira. A intervenção foi negociada entre os governadores dos dois Estados e o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
O governador de Alagoas, Divaldo Suruagy (PMDB), preferiu não fazer segredo da administração especial no Produban. "A questão deve ser resolvida logo para não gerar intranquilidade para os clientes", disse Pereira.
A data da intervenção sobre os dois bancos foi marcada ontem. Ambos passarão a ser administrados por conselhos de técnicos nomeados pelo BC, já escolhidos.
Os dois bancos passam por grave crise financeira, acentuada desde que o lançamento do real acabou com o lucro inflacionário.
Depois da queda da inflação, o Produban passou a recorrer a empréstimos de socorro do BC para cumprir seus compromissos diários. Hoje, o banco deve R$ 23 milhões ao BC.
Ontem, o governo alagoano distribuiu uma nota à imprensa. A nota diz que a intervenção não afetará os correntistas e investidores da instituição. Somente na semana passada, os correntistas, temendo a liquidação do Produban, efetuaram saques de R$ 5 milhões.
Segundo Jorge Toledo, secretário do Planejamento do Estado, a situação financeira do Produban é melhor que a do Banespa e do Banerj. O patrimônio do banco é de R$ 140 milhões e seu passivo é de cerca de R$ 40 milhões.
Os usineiros são os maiores devedores do banco, mas não têm dívidas vencidas. A dívida do setor, que vence de julho de 95 até o final de 98, é de R$ 21 milhões.
O governo do Estado é o segundo maior devedor: R$ 13,8 milhões, sendo que R$ 600 mil já venceram.
Para não serem novamente taxados pelos problemas financeiros do Produban, os usineiros alagoanos organizaram um pagamento antecipado de suas faturas.
Tudo que o setor devia até o final de junho deste ano foi pago nos últimos três dias.
"Conseguimos pagar a dívida antecipadamente para fortalecer o Produban", afirmou Toledo, que é também presidente do Sindicato dos Usineiros de Alagoas.
Segundo o governo estadual, o Produban tem 28 agências, sendo quatro deficitárias. Estas serão as primeiras a serem fechadas pela administração do BC.
O maior problema do banco, entretanto, é o chamado "descasamento de ativos", ou seja, a instituição tem dívidas no curto prazo, mas fez empréstimos que só receberá a longo prazo.
O Produban já foi liquidado pelo BC em 1988, no governo Sarney. De 1989 a 1991, esteve sob administração especial do BC. Somente então foi entregue ao ex-governador Geraldo Bulhões, aliado do governo Collor.
Pelo menos quatro outros bancos estão sujeitos à intervenção do BC. Os governadores têm negociado com a equipe econômica fórmulas alternativas, como a nomeação de um nome de confiança do BC para presidir seus bancos.
É o caso dos governadores Antônio Britto (PMDB), do Rio Grande do Sul, e Albano Franco (PSDB), de Sergipe.

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