São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Fernando Morais faz minissérie para Globo

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista e escritor mineiro Fernando Morais, 48, abandonou temporariamente as biografias para se aventurar na televisão.
Há pouco mais de um mês, o autor dos best sellers "Olga" e "Chatô - O Rei do Brasil" escreve "Sociedade Secreta", minissérie que a Globo planeja exibir em novembro, às 22h30.
O título ainda é provisório. O número de capítulos também está indefinido –a emissora pensa em algo entre 12 e 20. De certo mesmo, por enquanto, só o tema.
A minissérie vai resgatar a chamada Revolução Constitucionalista de 32, movimento armado que questionava o autoritarismo do presidente Getúlio Vargas e exigia a redemocratização do Brasil.
Promovido por militares e lideranças políticas de São Paulo, com apoio da oligarquia cafeeira, a revolta estourou no dia 9 de julho de 1932 e sucumbiu menos de três meses depois.
"Não pretendo contar a história da revolução em si", afirma Morais, "mas episódios de paixão, traição, heroísmo e covardia que tiveram como pano de fundo o levante dos paulistas."
O escritor ressalta que cada um dos episódios se baseará em fatos verídicos. "Tudo o que a minissérie mostrar aconteceu de verdade. Isso não quer dizer, no entanto, que me privarei do que chamo de liberdade dramatúrgica."
Morais dará, por exemplo, nomes fictícios para boa parte dos personagens. "Só tratarei pelo nome real figuras históricas famosas, como Getúlio Vargas e Bertoldo Klinger, um dos militares que lideraram a revolução."
O jornalista já elegeu os núcleos principais da minissérie. O primeiro vai girar em torno de uma milionária paulista que teve três filhos –dois rapazes e uma moça.
Haverá, ainda, um núcleo sobre a Burschenschaft, sociedade secreta que conspirava contra os getulistas. A julgar pelo título provisório da minissérie, a organização terá papel fundamental no enredo.
Em alemão, Burschenschaft significa alguma coisa como "confraria de jovens companheiros". O nome germânico despista a origem da sociedade –que nasceu na França em meados do século 19 por iniciativa de Robert du Sorbon. A agremiação não tinha, a princípio, nada de secreto. Era uma espécie de fundação que auxiliava estudantes pobres.
O alemão Julius Frank a trouxe para o Brasil ainda no século passado. E a transformou em algo parecido com a maçonaria.
Rapidamente, a organização ganhou o apelido de "A Bucha", corruptela de Burschenschaft. Seus membros, unidos por pacto de silêncio, ficaram conhecidos como "bucheiros".
Semana de 22
Foi "A Bucha" quem convenceu a Globo a apostar na Revolução de 32. Por volta de setembro, Carlos Manga, diretor da emissora, procurou Fernando Morais e lhe encomendou uma minissérie.
Impôs a condição de que tivesse tema paulista. O escritor pensou na Semana de Arte Moderna de 1922. Manga ponderou que talvez a Revolução de 32 funcionasse melhor –"histórias de guerra são mais dramáticas", argumentou.
Morais se lembrou, então, de "A Bucha". "Descobri a sociedade enquanto fazia levantamentos para outros trabalhos. Quando a mencionei, Manga se empolgou e resolveu investir mesmo na Revolução de 32."
Para escrever a minissérie, o jornalista conta com a ajuda do roteirista Carlos Gerbase, de Porto Alegre.
Apóia-se, também, em muita pesquisa. Já leu 34 livros sobre o assunto, além de jornais e documentos que encontrou no Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Paralelamente, entrevista pessoas que tiveram partipação ativa no movimento armado. "São aproximadamente 25. Já conversei com quatro", contabiliza, sem revelar nomes.
Morais dedica 12 horas diárias à minissérie. "Tenho que entregar o texto até 31 de julho, porque as gravações começam em agosto. É um trabalhão, mas vale a pena. Nunca fiz um roteiro antes. Estou fascinado pela possibilidade de, aos 48 anos, aprender uma linguagem inteiramente nova."
A Globo ainda não escalou o elenco de "Sociedade Secreta". Especula-se, porém, que Regina Duarte deverá protagonizá-la.

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