São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Três CDs recuperam o namoro entre samba e jazz

Gravadoras relançam discos instrumentais dos anos 60

RUY CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Antes do CD, para onde iam os LPs depois de mortos? Por "mortos", entenda-se esgotados e evaporados do catálogo das gravadoras. Bem, alguns sumiam, como se nunca tivessem existido; outros ficavam vagando num limbo, às vezes ressurgindo como ectoplasmas em sebos, onde, dependendo do disco, eram cotados a preço de ouro ou de banana.
Três desses discos que não eram encontrados nem nos sebos (porque seus possuidores não se desfaziam deles por nada) acabam de ressuscitar em CD: grandes discos instrumentais brasileiros dos anos 60, época em que o samba e o jazz iam para a cama todas as noites com a maior naturalidade.
O mais raro deles é "Edison Machado É Samba Novo", que a então CBS, hoje Sony, soltou em 1964. A Sony deve pressupor que o Brasil inteiro sabe quem foi Edison Machado –porque, exceto pelo seu nome e foto na capa do CD, não dá a menor informação sobre o artista. E que artista: o baterista Edison (1934-1990) inventou o "samba do prato" (pratos da bateria). Era um dos ases do Beco das Garrafas, no Rio, no auge da bossa nova e, sozinho, fazia seus couros swingarem como uma escola de samba. Um Art Blakey branco, com completo know-how de gafieira, hard-bop e samba moderno.
Seu disco foi uma sensação em 1964: base rítmica de samba com improvisações jazzísticas sobre possantes arranjos de Moacir Santos, Meirelles e Paulo Moura e temas como "Nanã", "Quintessência", "Coisa nº 1", "Só por Amor" e outras sete. O que mais se pode querer? Que a Sony, ao relançar jóias como essa, informe aos incautos sobre o que tem a oferecer.
Mais cuidadosa tem sido a RGE, que não economizou nos encartes ao criar a coleção "Prestígio", contendo as preciosidades de seu catálogo. Uma dessas é "Projeção", o disco de 1963 do contrabaixista Luiz Chaves, que, no ano seguinte, formaria o Zimbo Trio com o pianista Hamilton Godoy e o baterista Rubens Barsotti. Os dois já estão neste disco, mas reforçados por cobras como o guitarrista Boneca e o saxofonista Hector Costita. O som está mais para "big band" que para o Zimbo e os temas ("Influência do Jazz", "Pra que Chorar", "Estamos Aí" e outros nove) são um vibrante retrato sonoro daqueles tempos.
O outro disco, também da RGE, é "Dick Farney Jazz", de 1962. Sete faixas instrumentais, com Dick arrasando ao piano –nada do clima de pianos ao cair da tarde–, assessorado por Costita ao sax-alto, Mário Augusto ao contrabaixo e Claudio Slon à bateria. Farney, como quase todo mundo, era então um fã do quarteto de Dave Brubeck, a ponto de fazer Costita soar como Paul Desmond. Mas, sem ufanismo, Dick levava uma vantagem sobre Dave: balançava mais.

Título: Edison Machado é Samba Novo
Artista: Edison Machado
Gravadora: Sony
Título: Projeção
Artista: Luiz Chaves
Gravadora: RGE
Título: Dick Farney Jazz
Artista: Dick Farney
Gravadora: RGE
Quanto: R$ 18 (o CD, em média)

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