São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Academia Planalto

A primeira reunião ministerial da gestão de Fernando Henrique Cardoso, assim como o período inicial do governo, vem por enquanto deixando uma certa sensação de desencanto face às enormes expectativas que cercaram sua posse.
É verdade que o longo encontro do gabinete realizado no último final de semana parece ter definido estratégias gerenciais importantes para o funcionamento do governo. A busca de sintonia interna é sem dúvida saudável e é possível que as câmaras temáticas contribuam para eliminar eventuais redundâncias e superposições nos trabalhos dos ministérios, potencializando os esforços da administração.
Porém, por mais importantes que sejam, essas são apenas medidas instrumentais, preparatórias para a ação governamental. É de se indagar, aliás, se não poderiam ter sido adotadas antes mesmo da posse.
Substancialmente, contudo, pouco se avançou com relação àquelas diretrizes que já haviam sido anunciadas. Não se trata de querer que o governo aja com açodamento, mas sim com a agilidade que a situação do país demanda. E o início de uma gestão costuma ser estrategicamente crucial pois encontra os novos mandatários com maior força, antes do desgaste trazido pelas dificuldades da realidade. Desde logo após a eleição, chamava-se a atenção para a importância de não desperdiçar esse momento inicial.
Ninguém ignora que o presidente foi eleito com a promessa de não submeter o país a sustos e sobressaltos. Mas esse compromisso coexiste com uma esperança de grandes mudanças –muitas urgentes–, também prometidas na campanha e absolutamente indispensáveis para que o país possa consolidar sua estabilização e lançar-se à tarefa mais do que tardia de crescer com um mínimo de justiça social.
Mesmo considerando-se todas os obstáculos à frente, que não são poucos, esse início de gestão passa uma impressão algo incômoda de que anda mais devagar do que seria necessário ou desejável; de que, já sendo governo, ainda está se preparando para governar.

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