São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um sonho americano

RICARDO YAZBEK

A "National Association of Realtors" (NAR) pode ser definida como uma das maiores entidades representativas da área imobiliária, em nível mundial, congregando, atualmente, nada menos que 750 mil profissionais do setor.
Em novembro deste ano, durante a convenção anual da NAR, realizada na Califórnia, cerca de 16 mil associados e mais 540 profissionais de 38 diferentes países –inclusive o Brasil, representado pelo Secovi-SP, entre outros–, tiveram a oportunidade de debater diversos temas relacionados às atividades imobiliárias.
O evento, cuja programação foi, para nós, bastante interessante, ganhou um sentido diferente, em função da presença do presidente norte-americano, Bill Clinton, e seu contundente discurso. Em mais de 50 minutos de fala, destacou aspectos que têm tudo a ver com o ideário que defendemos, no tocante às bases para a formulação de uma política habitacional para o Brasil.
Em linhas gerais, Clinton destacou que a casa própria é um dos mais importantes "american dreams" (sonhos americanos), ainda que, naquele país, grande parte da população já tenha a propriedade de um imóvel. A política habitacional é, sem dúvida, uma das histórias de maior sucesso dos Estados Unidos.
Mesmo assim, Bill Clinton destacou que realizar o sonho da casa própria, além de muitas outras funções, significa fortalecer as famílias e estabilizar as comunidades. Ainda, encorajar a poupança e o investimento, promover o desenvolvimento da economia, a geração de empregos e as responsabilidades da sociedade. Para ele, a propriedade é questão de cidadania. Por estas razões, incluiu a expansão da indústria imobiliária como parte integrante de seu Plano de Administração Econômica.
No contraponto com o plano de estabilização da economia nacional, constatamos total coincidência com as idéias norte-americanas. Também aqui a casa própria é um dos mais importantes sonhos brasileiros. Também no Brasil, os efeitos da materialização deste sonho são absolutamente idênticos. Só que, ainda aqui, esta conquista é para poucos: há milhões de famílias vivendo o pesadelo da falta de teto.
Bill Clinton forneceu, também, o receituário para que o sonho da moradia possa virar realidade. Primeiramente, exortou todos os órgãos governamentais e todas as entidades privadas envolvidas com o setor habitacional a ampliar a cooperação e a parceria que abrirão as portas da casa própria a milhões de famílias. E propôs o desenvolvimento de uma estratégia concreta para entrar no século 21 com significativo aumento da população proprietária.
Para tanto, e combinando os esforços e recursos dos setores público e privado, estabeleceu os seguintes objetivos: 1) reduzir os custos, financeiros, de produção, de transações e de taxas, para tornar a casa própria mais acessível; 2) abrir os mercados, com vistas a aumentar o volume de opções, e remover as barreiras reguladoras e discriminatórias, barateando as habitações, os financiamentos e os seguros; e 3) expandir as oportunidades para fazer da casa própria uma realidade concreta para mais pessoas, através da educação, da informação, da tecnologia e do envolvimento e participação da sociedade.
Em novo paralelo com a realidade nacional, mais uma vez a identidade com essas premissas é total. Como seria, certamente, com qualquer pronunciamento de estadistas que sabem aquilatar o que representa a indústria imobiliária para o desenvolvimento econômico e o bem-estar de uma nação.
A contribuição desse segmento produtivo no Brasil já foi, inclusive, mensurada. Estatísticas revelam que, para cada emprego direto no setor, outros dois são gerados em segmentos correlatos. A construção civil movimenta cerca de 7% do PIB direto, e mais de 20% indiretamente, consideradas as demais áreas envolvidas.
Pode-se afirmar que Estados Unidos, Bill Clinton e NAR são coisas muito distantes da realidade brasileira. Que estabelecer comparações é, no mínimo, um equívoco.
Entretanto, é inegável que os brasileiros esperam ouvir do presidente Fernando Henrique Cardoso discurso similar. Querem obter dele o compromisso com a implantação de uma verdadeira política habitacional, instrumento adequado para conter as desigualdades e a injustiça social.
A nação deseja, do novo governo federal empossado em 1º de janeiro, mensagens que sinalizem a esperada recondução do país pelos caminhos do desenvolvimento. Por certo, a questão habitacional não ficará esquecida. E esperamos que, desta vez, seja devidamente priorizada, incluída, a exemplo de outros países, como um dos principais sustentáculos de um contínuo progresso.

Texto Anterior: Cesta básica tem novo recuo em SP; custo é de R$ 99,70
Próximo Texto: Santista Alimentos se associa à Barilla
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.