São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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Chantagem frustrada

Finalmente encerrou-se a deprimente novela da aprovação do nome do novo presidente do Banco Central, Pérsio Arida, pelo Senado. Num reflexo desanimador do estágio da política nacional, a demora na votação –duas vezes adiada na semana passada– não se deveu a um debate em torno da capacidade do escolhido para um cargo tão importante, mas sim a uma tosca e revoltante tentativa de chantagem.
Nos últimos dias, de fato, o país assistiu aturdido a um indigno espetáculo: um grupo de senadores pretendia, desavergonhadamente, condicionar a aprovação do presidente do BC ao apoio do governo a projeto que anistia parlamentares que tenham usado recursos públicos com finalidades eleitorais.
Não satisfeitos em pretender colocar-se acima da lei –que eles próprios aprovaram–, tentavam também vincular uma decisão importante para a economia de todo o país a seus mesquinhos propósitos corporativos.
É verdade que essa atitude refere-se apenas a um pequeno grupo de congressistas. Tanto é assim que, quando um quórum um pouco maior (51 de um total de 81 senadores) foi obtido, a aprovação se deu tranquilamente.
Tal situação expõe ainda um outro problema típico do Congresso brasileiro: o absenteísmo crônico e generalizado. Afinal, se um grupo diminuto conseguiu atrapalhar uma votação dessa importância, foi apenas porque muitos dos senadores restantes não se encontravam na Casa. De certa forma, essas dezenas de gazeteiros são quase tão responsáveis pelo episódio quanto os chantagistas. A votação foi adiada na semana passada porque não havia sequer o quórum mínimo de 41 senadores em plenário.
Quanto à anistia, cabe agora à Câmara de Deputados e, no limite, ao Executivo impedir sua aprovação. Agir de outra forma significaria transferir também para essas duas instâncias o forte golpe desferido pelos senadores contra a sua própria e já desgastada imagem.

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