São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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A química da abertura

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A abertura da economia torna mais competitivas as empresas nacionais, que passam a produzir mais e melhor, certo? Nem sempre, diz recente estudo da Abifina (Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas especialidades).
De 1990 a 1993, 35 unidades produtivas na área de química fina foram paralisadas no Brasil. Incompetência de empresas acostumadas a uma economia protegida?
Não, diz o estudo. "Relevante número de tais paralisações (em torno de 80%) não está associado a eventuais faltas de competitividade do empreendimento brasileiro, mas sim decorre da implementação de novas estratégias de ação por parte de empresas transnacionais, as quais, em decorrência da rápida abertura comercial, preferiram passar a exportar produtos para o Brasil em vez de fabricá-los localmente", diz a Abifina.
Tem-se aí um primeiro problema, de exportação de empregos, por mais que os apóstolos da abertura sem cuidados e sem limites digam que isso é balela, queixa de industriais incompetentes.
Há um segundo problema: os produtos que passaram a ser importados "mostraram uma evolução ascendente de preços (em torno de 35%)", diz ainda a Abifina. Ou seja, perdem-se empregos e não se tem o benefício da contenção de preços.
Aliás, outra bobagem é supor que abertura e competitividade caminham sempre juntas. Também no exterior, há monopólios e oligópolios, com as mesmas práticas destrutivas de seus congêneres brasileiros.
O estudo da Abifina informa que os preços médios de produtos de química fina importados variam de apenas US$ 5 o quilo a US$ 250 o quilo.
Por quê? Fácil: US$ 250 é quanto se cobra quando o produtor é um só. E US$ 5 é o preço quando há mais de oito produtores.
É claro que abrir a economia tornou-se uma necessidade imposta pela realidade do mundo moderno. Mas não se pode fazer da abertura o totem em que se transformou para meia dúzia de basbaques.

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