São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Secretário faz acusação sem comprovar

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Mário Covas apresentou ontem números que comprovariam que a má gestão de seu antecessor, Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB), teria levado a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e a Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) a uma péssima situação financeira.
Os números foram apresentados durante a primeira audiência pública promovida pelo governo do PSDB (veja quadro acima). Nenhum documento que comprove a versão tucana foi divulgado.
Na platéia, estavam sindicalistas e representantes de entidades ligadas ao setor energético.
Segundo o secretário de Energia, David Zylbersztajn, relatórios sobre a situação financeira e as auditorias sobre contratos firmados no governo Fleury serão divulgados assim que concluídos.
O presidente da Cesp, Andréa Matarazzo, disse que a empresa foi muito usada politicamente, principalmente na contratação de funcionários.
Matarazzo citou como exemplo os 292 funcionários e 101 jornalistas à disposição da presidência da Cesp. Não há necessidade de tanta gente,afirmou.
Em sua exposição, o dirigente levantou a suspeita de o governo Fleury ter privilegiado, na Cesp, o pagamento de empreiteiras.
Segundo Matarazzo, enquanto deixou de pagar impostos e fornecedores, num total de R$ 1,890 milhão, todos os pagamentos com construtoras foram feitos pela estatal no final de 94.
A Cesp tem hoje uma dívida de R$ 5,9 bilhões, dos quais R$ 810 milhões têm que ser pagos em 95, segundo o dirigente.
Tanto o presidente da Cesp quanto o secretário de Energia disseram que, em caso de serem apurados indícios de irregularidades nas estatais, o governo pretende acionar a Justiça.
Se encontrarmos indícios de crime faremos o que a responsabilidade pública nos obriga a fazer: vamos encaminhar para que as medidas legais sejam tomadas, disse Zylbersztajn.
O secretário contestou declaração recente do ex-governador Fleury, segundo a qual a Cesp e a Comgás teriam apresentado lucro em 94. Para Zylbersztajn, o lucro é só de papel. Se fosse real, nós não teríamos encontrado dívidas vencidas e a situação que encontramos.
A presidenta da Comgás, Yeda Correa Gomes, citou como exemplo de má gestão compras que seriam desnecessárias. Segundo ela, a empresa comprou 150 mil medidores de gás do Japão enquanto eram necessários 35 mil.
O governo tucano diz que essa situação só será revertida com enxugamento (demissões), revisão imediata de todos os contratos de obras e fim das mordomias.
O ex-governador Fleury está em viagem fora do país. Seu assessor de imprensa, Germano de Oliveira, foi procurado ontem em sua casa e no escritório do ex-governador mas não foi localizado.
Em recente entrevsta à Folha, Fleury atribuiu a dívida das estatais a seus antecessores. Segundo ele, o aumento do débito das energéticas só ocorreu em sua gestão devido à rolagem da dívida.

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