São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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'Supérfluo' sobe 14% em um mês

DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços dos produtos que escapam das pesquisas da cesta básica e são tidos como "supérfluos" por boa parte da população subiram até 14% em dezembro. Eles bateram de longe a inflação de 1,25% do período, apurada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Entre dez "supérfluos" pesquisados, o salame liderou com alta de 14% no preço. Seis produtos foram remarcados em torno de 5% como sucrilhos e palmito.
Já em dez produtos da cesta básica, a queda de preço chegou a 15%, no caso do feijão. Motivo: a época da safra.
A subida das cotações dos "supérfluos" explica-se. Do lado da oferta, houve aumentos de custos, como embalagens, matéria-prima, salários, frete etc.
Mas também a maior procura por estes produtos, desencadeada principalmente pelo ganho de renda da população de baixa renda, abriu espaço para reajustes tanto da indústria como do comércio.
"O consumo de maionese cresceu 10% e o de seleta de legumes 8% neste final de ano", afirma Firmino Rodrigues Alves, presidente interino da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
Estes produtos têm conquistado, também, maior espaço nas prateleiras dos supermercados. Alves diz que o consumo dos alimentos "supérfluos" cresceu 10% em dezembro enquanto os da cesta básica caíram entre 5% e 6%.
A rede de supermercados D'Avó, que tem sua clientela concentrada nas classes C e D, confirma esta tendência. Hoje metade de seu faturamento está baseado em produtos tidos como "supérfluos". Os básicos respondem pelos outros 50%. No ano passado, os "supérfluos" não passavam de 40%, diz Martinho Paiva Moreira, gerente.
Moreira afirma que o tíquete médio de venda aumentou 63% no ano passado por causa do maior consumo de produtos que não pertencem à cesta básica.
"Das listas que estamos recebendo em janeiro, os maiores reajustes também têm sido destes produtos", afirma.
Nelson Sendas, gerente de compra da rede de supermercados que leva seu sobrenome, admite que a maior procura hoje por "supérfluos" abre espaço para reajustes.
"O consumidor, que está comprando produtos mais sofisticados, está mais predisposto a aceitar os aumentos", afirma Sendas.
Só no ano passado, o faturamento global dos supermercados somou US$ 31,5 bilhões, 14% mais que em 93. Os "supérfluos" contribuíram para este resultado.
"Se não houvesse os supérfluos, estaríamos quebrados, sem rentabilidade", afirma Wilson Tanaka, do Sincovaga, que reúne os pequenos supermercados.
Segundo Tanaka, atualmente, com o menor peso da cesta básica no faturamento, os supermercados podem intensificar a estratégia de vender estes produtos abaixo do custo. É que o faturamento do mês está garantido com a venda dos "supérfluos".
Exemplo: o pacote de cinco quilos do arroz São João pode ser vendido por R$ 2,98 apesar de ter sido comprado pelo supermercado por R$ 3,20, segundo Tanaka.
Em contrapartida, dizem os supermercadistas, com a maior rentabilidade dos "supérfluos" será possível incentivar as promoções.

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