São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995
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Déficit comercial não será mantido, afirma Dorothéa

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Agora, o discurso oficial já mudou. "Jamais, em tempo algum, gerar déficit comercial será objetivo desta administração", diz a ministra da Indústria e Comércio, Dorothéa Werneck, 46.
O problema é que pelo menos uma das causas para o déficit mais elevado de dezembro é agora permanente.
Pelo que a Folha apurou, a primeira estimativa (a dos US$ 47 milhões) se deveu ao fato de a Secretaria de Comércio Exterior do MICT ter cometido o erro técnico de fazer projeções para dezembro com base nos dados de outubro.
Não incorporou, por isso mesmo, dois elementos que fizeram explodir as importações: vendas pelo Correio (facilitadas primeiro e, depois, submetidas a novas e mais rígidas regras) e antecipação da TEC (Tarifa Externa Comum).
A TEC foi imposta pela entrada em vigência do Mercosul, o acordo comercial que engloba Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Significa que os quatro adotam tarifa de importação idêntica (e mais baixa do que a anterior).
Ocorre que a TEC, em vez de vigorar a partir de 1º de janeiro, junto com a oficialização do Mercosul, foi parcialmente antecipada para outubro. Mas a nova TEC é agora definitiva e, portanto, continuará funcionando como estímulo às importações.
Tanto o ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, como Dorothéa disseram ontem à Folha, separada mas coincidentemente, que a tendência é a de não se repetir o déficit.
Essa expectativa combina com os números relativos aos 14 primeiros dias do mês, que, conforme a Folha mostra hoje, apontam um superávit, em operações comerciais, de US$ 58,6 milhões.
É verdade que tais números referem-se a fechamentos de câmbio e não a importações e exportações propriamente ditas. Mas sempre apontam uma tendência.
O governo não parece ter claro qual o saldo que pretende manter na balança comercial, que será, de todo modo, inferior aos mais de US$ 10 bilhões anuais dos últimos anos. Vai depender do fluxo de investimentos externos.
Até o final do ano, a equipe econômica imaginava o ingresso de uma avalanche de capitais externos (entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões).
Mas a crise mexicana lançou um enorme ponto de interrogação sobre o montante de tais recursos, que só vai se dissolver se e quando o horizonte interno e externo estiver mais desanuviado.

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