São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995
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Tremor no Japão é o pior em 47 anos

STEVEN BRULL
DO INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE, EM TÓQUIO

Um forte terremoto abalou várias cidades no oeste do Japão na madrugada de terça-feira, matando pelo menos 1.800 pessoas, destruindo quase 8.000 prédios e encheu os céus de pesadas nuvens de fumaça dos incêndios que arderam durante a noite.
O número de mortos é provavelmente maior, pois à 1h45 da quarta-feira, horário do Japão, ainda havia 985 desaparecidos.
Segundo os sismólogos, o terremotou atingiu 7,2 pontos na escala Richter e foi o pior já registrado no oeste do Japão, além de ser o mais violento a atingir uma área urbana nesse país desde 1948.
O epicentro do terremoto foi a 20 km de profundidade abaixo da ilha de Awaji, diante da costa de Kobe, uma cidade portuária próxima a Osaka, a cerca de 480 km a oeste de Tóquio.
As cidades mais atingidas foram Kobe, Osaka e Kyoto.
Chamado oficialmente de Terremoto de 1995 da Prefeitura de Hyogo Meridional, ele durou 20 segundos. O abalo ocorreu às 5h46 de terça-feira (18h46 de segunda em Brasília).
Ao longo do dia de ontem, sismógrafos registraram mais de 600 tremores secundários.
Especialistas dizem que novos tremores serão registrados nas próximas semanas. Para Katsuyuki Abe, do Instituto de Sismologia da Universidade de Tóquio, há 30% de chances de um deles ser tão violento quanto o de ontem.
A região entrou em crise, enquanto os serviços de resgate tentavam salvar milhares de pessoas presas em estruturas desabadas.
Os trabalhos foram dificultados pela queda de vias expressas e ruptura de ferrovias. Um milhão de residências ficaram sem eletricidade e cerca de meio milhão sem fornecimento de gás.
Pelo menos 100 mil pessoas foram instaladas em abrigos provisórios. Tarde da noite de ontem a televisão japonesa mostrava imagens de milhares de pessoas dormindo enfileiradas no chão de ginásios.
As equipes de resgate tinham dificuldades para procurar sobrevientes. Na falta de equipamentos de escuta, eles apenas gritavam, segundo integrante de uma equipe ouvido pela " Reuter".
O primeiro-ministro Tomiichi Murayama deve visitar a área atingida amanhã. O gabiente convocou uma reunião de emergência para discutir a crise. Mil soldados do Exército foram enviados para ajudar no resgate.
Levando em conta que os japoneses são um povo que se alimenta de ansiedade, faz tempo que encaram com espantosa tranquilidade as consequências de um grande terremoto.
A atitude se baseava em parte na negação e em parte na confiança nas técnicas cuidadosas de construção civil e nos treinos anuais de prevenção de terremotos, que teriam preparado a nação para a eventualidade de um abalo de proporções maciças.
Apesar disso, o terremoto de ontem causou morte e destruição em proporções muito além das esperadas e abalou a nação, levando-a a fazer uma sombria análise póstuma do que deu errado.
Descrevendo cenas de rodovias soterradas, incêndios desenfreados e ferrovias rompidas ao meio, os especialistas entrevistados na televisão enumeraram os fatores tectônicos que geraram o terremoto de 7,2 pontos de magnitude e os lapsos de construção e preparo que levaram a prejuízos que deverão chegar à casa das dezenas de bilhões de dólares (leia texto à pág. 2-3).
A contagem de mortos, em contínua ascensão, foi um lembrete sombrio de que os terremotos ameaçam o arquipélago japonês inteiro, especialmente sua capital, Tóquio, que abriga uma população de mais de 11 milhões de pessoas e é fonte de 7% do PNB mundial.
Há um ano, quando um terremoto de magnitude semelhante atingiu a região de Los Angeles, marcando o mundo com imagens de vias expressas desabadas, os engenheiros japoneses se gabaram, dizendo que a mesma coisa não aconteceria por aqui.
Os prédios japoneses eram melhor projetados e construídos, segundo eles.
Mas ontem esses especialistas reavalariam suas posições.
Para o americano Robert Geller, professor de geofísica na Universidade de Tóquio, os danos servem como aviso de que as atitudes japonesas em relação a terremotos são demasiado complacentes.
Segundo Geller, essa atitude presunçosa levou o país a desperdiçar mais de US$ 1 bilhão desde 1965 num programa de previsão de terremotos que não possui base científica.

Tradução de Clara Allain

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