São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 1995
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Sissi acha que preconceito diminuiu

JOÃO CARLOS DE ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A jogadora Sisleide Lima do Amor, 27, a Sissi, é a artilheira do Campeonato Sul-Americano de Futebol. A número 10 da seleção brasileira marcou 12 gols em 4 partidas.
A final da competição será entre Brasil e Argentina amanhã, às 16h, em Uberlândia (MG).
Na fase de classificação, o Brasil ficou em primeiro, assegurando a vaga para o Mundial da Suécia, que será disputado em junho. A seleção tentará trazer o título, conquistado pelas norte-americanas em 91.
A artilheira, natural de Esplanada, Bahia, mora em São Paulo. Torcedora do Palmeiras, pratica futebol de salão na equipe do Marvel de Santos, apesar de preferir o futebol de campo.
Após a competição em Uberlândia, Sissi acredita que o futebol feminino pode se tornar mais popular, aumentando suas perspectivas profissionais.

Folha - Quando você começou a se interessar por futebol?
Sissi - Aos dez anos de idade. Na verdade, o sonho do meu pai era ter um filho que jogasse futebol. Nós somos cinco mulheres e um homem. Meu irmão era péssimo como jogador, não gostava de futebol. E eu era diferente, sempre adorei o esporte. E aí comecei.
Folha - Como se desenvolveu sua carreira?
Sissi - Eu sou do interior da Bahia, de Esplanada. Como lá não dava para jogar futebol, não tinha um time feminino, eu decidi partir para Feira de Santana aos 14 anos. Lá tinha um time, o Flamengo. Quatro anos depois eu fui para Salvador, joguei no Bahia. Aí fui convidada para atuar no Corinthians, praticando futebol de salão. E até hoje eu jogo salão.
Folha - Qual é a diferença entre futebol de campo e de salão?
Sissi - O de campo é muito mais gostoso. Você tem mais espaço, pode criar... Não tem nem comparação. Mas há mais oportunidades para mulheres em futebol de salão.
Folha - E existe muito preconceito?
Sissi - Antes havia sim. Principalmente por parte das próprias mulheres. Elas às vezes nos xingavam, diziam que lugar de mulher não é no campo de futebol, ainda mais jogando. Hoje acho que o preconceito está diminuindo.
Folha - O que você está achando do Sul-Americano em Uberlândia?
Sissi - Estou nas nuvens. O carinho do povo de Uberlândia é incrível. Os torcedores falam conosco, pedem autógrafos...
Folha - E vocês serão mesmo campeãs?
Sissi - Espero que sim. A gente não pode entrar jogando de salto alto. A Argentina merece todo respeito. Contra a Bolívia, por exemplo, jogamos mal no primeiro tempo, fizemos só 4 gols. Depois de uma bronca no intervalo, marcamos mais 11.
Folha - O Brasil tem vencido todos os adversários por larga margem de gols. As outras equipes não são boas ou é o time brasileiro que joga muito bem?
Sissi - O nosso time é demais, está jogando um bolão. Quanto aos outros times, eu acho que eles melhoraram muito. A Argentina e o Chile têm boas jogadoras.
Folha - O Brasil garantiu presença no Mundial que será realizado em junho na Suécia. Você acha que o time tem condições de ser campeão?
Sissi - Não sei. O Mundial deve ser muito difícil. Nós teremos que treinar seriamente. Mas eu acho que estamos muito unidas, as jogadoras, a comissão técnica... Hoje nós temos apoio, a própria CBF está nos ajudando.
Folha - Qual seleção é a favorita para o título mundial?
Sissi - Os Estados Unidos são os favoritos. Mas para o Brasil, se ficarmos entre os oito melhores, garantimos a vaga para a Olimpíada, o que já seria maravilhoso.
Folha - Qual a diferença entre o futebol feminino do Brasil e o dos Estados Unidos?
Sissi - As norte-americanas são mais rápidas, mas as brasileiras têm mais toque de bola.
Folha - Você tem algum ídolo no futebol?
Sissi - Tenho alguns do passado. O Rivelino, o Zico, o Mário Sérgio...
Folha - E do presente?
Sissi - Eu gosto muito do Zinho. Sou palmeirense, sempre que posso vou aos estádios.
Folha - A violência nos campos de futebol não te assusta?
Sissi - Depende. Eu tenho medo de brigas de torcidas. Mas o público que assiste aos jogos das mulheres é diferente, nem palavrões a gente escuta... Mesmo dentro do campo, nós somos mais pacíficas, evitamos jogadas violentas.
Folha - Quais são seus planos para o futuro?
Sissi - Jogar futebol de campo, que eu prefiro ao de salão. E mais tarde quero me dedicar ao esporte, quem sabe virar técnica de futebol... É o que eu gosto de fazer.

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