São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cesta básica e salário mínimo

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A questão do aumento do salário mínimo para R$ 100,00 recoloca a discussão do velho dilema –aumento nominal x aumento real de salários.
Nossos congressistas, deixando de lado a questão do complexo de culpa pelo aumento de seus próprios vencimentos, optaram pela demagogia do aumento nominal. Não consideraram o aumento do poder de compra dos salários mais baixos provocado pela queda da cesta básica durante os últimos quatro meses.
O número divulgado pelo Procon na última sexta-feira, R$ 97,12 para a compra da cesta básica de consumo popular, é apenas 2% mais alto que o menor valor verificado após a implantação do real. Ele corresponde a 114% do salário mínimo de R$ 85,00. Esta mesma relação em fevereiro de 1994, último mês antes da implantação da URV, foi de 155%.
Um aumento real da ordem de 36% neste período de 11 meses. Isto sem considerar a perda inflacionária dos salários entre seu recebimento e a compra da cesta de consumo na época da inflação elevada.
Em maio de 1994, mês em que o poder de compra de trabalhadores e aposentados chegou ao ponto mais baixo no período do real/URV, o valor da cesta representava o dobro do salário mínimo. Hoje, seu valor está apenas 15% acima.
Esta melhoria foi obtida não pelo mecanismo de indexação mensal, mas pela desinflação dos preços. E esta só foi possível, entre outras razões, pela desindexação dos salários!
Não quero avaliar o nível do salário mínimo de hoje, claramente muito abaixo do necessário para uma vida decente. O que se discute é o mecanismo pelo qual se poderá fazer esta elevação no padrão de vida dos brasileiros mais pobres.
O comportamento dos preços nestes últimos quatro meses mostra que, caso se consiga estabilizar o quadro fiscal do governo, podemos eliminar de nossas vidas a já conhecida corrida entre preços e salários. Na qual os trabalhadores, principalmente os de baixa renda, sempre são os perdedores.
Mas é preciso que o novo legislativo federal, que toma posse em 1º de fevereiro, tenha um comportamento mais racional e patriótico do que o velho Congresso que está morrendo.

Texto Anterior: Juro diário é de 0,1127%
Próximo Texto: Projeção é de 3,18% no mês
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.