São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agricultores aderem ao marketing

HELCIO EMERICH

No país das megacorporações, das gigantescas cadeias de varejo e do marketing regado por bilhões de dólares não há mais oportunidades para microempresários. Menos ainda para pequenos empreendedores que sonhem com a idéia impossível de fabricar um produto de consumo e disputar um lugar nas prateleiras dos supermercados ou nas mesas das grandes cadeias de restaurantes e lanchonetes. Certo?
Errado. Nos EUA, uma comunidade de agricultores do Estado de Idaho (um dos celeiros do país de cereais, tubérculos etc.) mostrou que ainda existe espaço para os pequenos negócios, desde que alimentados pela determinação e por uma boa dose de talento.
Insatisfeitos com a receita das vendas "in natura" das suas colheitas, cerca de 200 pequenos fazendeiros (a maioria tocando propriedades de família) se uniram para formar entidades como a Buy Idaho e a Idaho Speciality Foods Association e partiram para desenvolver novas opções de produtos alimentícios que pudessem ter alguma chance de competir contra as poderosas marcas já estabelecidas no mercado.
A orientação estratégica para o projeto os agricultores foram buscar com uma profissional de marketing, Laura Hobbs, que trabalhava no Departamento de Agricultura do governo americano.
Após as pesquisas e diagnósticos de praxe, Miss Hobbs recomendou que os fazendeiros procurassem criar produtos diferenciados, na linha dos "gourmet foods", posicionados para "connaisseurs" capazes de valorizar a origem artesanal dos alimentos e as condições do solo e do clima da região (que favorecem as propriedades nutritivas e o sabor dos vegetais).
As embalagens, é claro, deveriam refletir o charme que a imagem do campo e da vida natural exerce sobre as pessoas, sem perder de vista a praticidade exigida pelas consumidoras e pelas modernas cozinhas americanas.
O que resultou dessa iniciativa pode não fazer muito o gênero das donas-de-casa brasileiras, mas o marketing do "value-added product" provou mais uma vez que funciona.
Uma das fazendas familiares da região, a Rolland Jones, começou a ganhar dinheiro novo com embalagens de 12 batatas assadas. A Frederick's vem faturando firme com a sua Couch Potato, um "chips" de batata com cobertura de chocolate para se comer enquanto se assiste televisão. Flocos de trigo aromatizados com sabores de alho, cebola e churrasco foram a invenção da Nature Tree. A Silver Creek Farm lançou filés de tilápia e truta defumados.
Até uma vinícola local, a Hagerman's Winery, entrou na onda bolando uma cesta que combina garrafas do seu Riesling com potes de mostarda caseira. Por conta da excentricidade americana ficou a idéia da fazenda Wendell, que conseguiu entrar nos supermercados com uma nova variedade de milho de pipoca que se leva ao forno de microondas com sabugo e tudo.
O que mais tem empolgado os marqueteiros "country" de Idaho é que, ao oferecer alimentos e embalagens carregados no toque "premium", eles podem carregar também no preço "premium" dos seus produtos.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna Criação & Consumo

Texto Anterior: Banco Pactual foi pioneiro
Próximo Texto: Multiplan lança projeto de condomínio nos EUA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.