São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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É PROIBIDO SURFAR

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A proibição do surfe em pontos do litoral de Pernambuco, por causa dos ataques de tubarões, deu origem no Estado a uma geração de surfistas "sem-praia".
São adolescentes iniciantes e de baixo poder aquisitivo, que deixaram o esporte por falta de um lugar adequado.
Sem experiência ou dinheiro, eles não podem se deslocar para praias mais distantes ou se aventurar nas grandes ondas de Maracaípe, no litoral sul.
Ainda como consequência dos ataques, as etapas dos circuitos estadual e de clubes de surfe, que aconteceriam na praia de Boa Viagem, em Recife, foram transferidas.
A escolinha que funcionava no mesmo local e ensinava o esporte para cerca de 20 crianças e adolescentes foi desativada.
Um total de 11 surfistas foram atacados por tubarões no litoral de Pernambuco no período de janeiro de 94 a janeiro de 95.
O maior número de ataques ocorreu no ano passado, quando foram registradas dez vítimas no Estado. Uma delas morreu.
A proibição da prática do surfe, windsurfe, caiaque e bodyboard nas áreas de risco, porém, só foi decidida após novo ataque, já em 95. Surfistas e pesquisadores apoiaram a medida.
Os irmãos Gustavo, 15, e Rodrigo Ribeiro, 13, tornaram-se surfistas "sem-praia" depois do fechamento da escolinha de surfe.
"Temos três pranchas guardadas", diz Gustavo, que passou um ano praticando o esporte na praia de Boa Viagem.
Segundo ele, seus amigos também foram obrigados a parar de pegar onda e muitos, como o próprio Gustavo, acabaram trocando o surfe pelo futebol.
A situação dos "sem-praia" passou a preocupar tanto os surfistas mais experientes quanto a associação da categoria no Estado. "É uma ameaça à renovação", disse Gustavo Aguiar, 20, vice-campeão brasileiro amador e 13º colocado no mundial amador de 94.
"Vamos sentir o problema em dois anos", previu ele, que disputa em 95, pela primeira vez, o mundial de surfe profissional. Aguiar foi um dos que aprenderam a profissão pegando onda em um trecho da praia de Boa Viagem hoje interditado.
A Associação dos Surfistas de Pernambuco, que apoiou a proibição do esporte nas áreas de risco, busca agora alternativas para os "sem-praia". Segundo o presidente da entidade, Geraldo Cavalcanti, 33, dois projetos voltados para principiantes estão sendo elaborados.
Um deles consiste em criar um circuito para iniciantes e mirins no litoral norte e sul, com transporte e premiações.
Outro projeto da associação para este ano é cercar com redes um trecho em Boa Viagem.
A medida, explica Cavalcanti, permitiria o acesso e ao mesmo tempo garantiria a segurança dos surfistas da região.
Com cerca de 10 mil praticantes, segundo a associação da categoria no Estado, Pernambuco é considerado um dos três principais celeiros de surfistas do país.

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