São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Americano agarra e brasileiro passa perna

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Esta é a semana que todo país esperava. É a semana que nada vai mudar, mas que eletriza a nação. É a semana do "superbowl", o que não significa nada, mas não se fala em outra coisa, em especial aqui na Califórnia. Dois times do Estado chegaram lá, o "49ers" de San Francisco e o "Chargers" de São Diego.
Se você está por fora, chuchu, "superbowl" é a final do campeonato de futebol americano, aquele esporte em que uma penca de marmanjo fica se agarrando e se arrastando. Depois falam que esporte faz bem pra saúde.
Dizem as más línguas que o futebol praticado nesta terra é a essência do estilo de ser do americano: um empurrando o outro, puxando, pulando por cima, dando porrada, cabeçada, ombrada, para conquistar o espaço (território) do outro. Se isto é verdade, o que não dizer do futebol brasileiro, aquele em que um passa uma rasteira no outro?
A maior esquisitice do futebol americano é que é o único esporte em que a bola não é redonda. É ainda um esporte racista, em que um branco "quarterback", joga uma bola que não é redonda para uma penca de negro se bater por ela; nos 36 times da liga profissional, só existem dois negros "quarterbacks".
Este campeonato é coisa de profissional; Dennis Hopper é o garoto-propaganda. Os times jogam aos domingos (às vezes, às segundas). Jogam apenas 16 vezes por temporada (19 se forem para as finais). São jogos com estádios lotados (os ingressos estão esgotados até o ano 2006), TV ao vivo e muito merchandising; 30 segundos de comercial no "superbowl" custarão um milhão de doletas, recorde.
Neste ano, pode apostar o carro importado do seu parente próximo no time de São Francisco que o papai aqui garante; não só sou "49ers." desde criancinha, como meu Ford 1979 está todo forrado com decalques e bandeirinhas, herança do antigo dono.
O "49ers." é mais time. Tem a melhor campanha (já goleou o "Changers" nesta temporada por 38-15), o melhor técnico do país, George Seifert, o homem que nunca sorri, o melhor atacante, Jerry Rice, o melhor defensor, Deion Sanders e o melhor quarterback, Steve Young. Lembra um pouco o Brasil de Telê em 82, com a vantagem de já ter atropelado a sua Itália (o "Dallas Cowboys"). Se o Elias Júnior se atrapalhar com as regras, saiba que é um esporte que ninguém sabe as regras e que as punições são inventadas na hora.

MARCELO RUBENS PAIVA está em San Francisco (EUA) como bolsista da Knight Fellowship, na Universidade de Stanford.

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