São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 1995
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'Bebês do crack' têm doença rara

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

A criança tem dores no corpo mediante um simples toque. Algumas têm tremores, nos primeiros meses de vida, ao serem tomadas no colo. Têm dificuldade para dormir. São mais suscetíveis a infecções pulmonares. Nascem com no máximo dois quilos de peso. São os "bebês do crack".
Estas são as características apresentadas por bebês cujas mães usaram crack ou cocaína em grandes quantidades durante a gestação.
O quadro corresponde a uma doença chamada "síndrome de hiperexcitabilidade".
Segundo o médico Antony Wong, 47, coordenador do Centro de Atenção Toxicológica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, os casos registrados no Brasil ainda são raros.
Wong afirma já ter visto quatro casos de bebês com essa síndrome no Instituto da Criança.
Para o médico, os problemas dessas crianças não são decorrentes apenas da ação direta da droga no feto. "As mães também se alimentam mal e os bebês têm problemas decorrentes da desnutrição, como baixo peso e deficiência mental".
Solange tem notado aumento na quantidade de mulheres usuárias de crack que engravidam.
"Apesar de esta droga diminuir o desejo sexual, isto ocorre porque esta mulheres têm que se prostituir para poder comprar o crack".

Área de consumo
A rua Guaianazes, no centro de São Paulo, é um dos pontos onde se reúnem adolescentes e jovens que consomem e vendem crack.
Eles costumam dormir por ali, na rua. Nesta região é comum encontrar alguma grávida que é usuária da droga.
Kelly (os nomes dos usuários de drogas são fictícios), 17, usa crack há oito meses. Está grávida há três. O pai da criança morreu, diz.
Kelly diz que vai largar a droga, para não prejudicar o bebê. Diz que vai se mudar para Minas Gerais "porque lá não tem crack".
Ela pede esmola dizendo que é para comprar comida. Mas Kelly admite que, na verdade, vai comprar mais uma pedra de crack.
Silvia, 19, também fuma várias pedras todos os dias. Ela estava grávida, mas perdeu o filho no oitavo mês de gravidez.
Segundo Wong, o aborto e o nascimento prematuro também podem ser induzidos pelo consumo de pedras de crack.

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