São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Secretário ' fantasma' pede demissão e Covas aceita

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Secretário 'fantasma' pede demissão e Covas aceita
Sérgio Barbour, dos Esportes, deixa governo após reportagem da Folha
O secretário de Esportes e Turismo de São Paulo, Sérgio Barbour, pediu ontem demissão do cargo ao governador Mário Covas (PSDB), que aceitou o pedido.
Em 26 dias de governo, Barbour é o primeiro secretário de Covas a deixar a administração. Ele poderia virar uma "assombração" para o governo, que, desde a posse, vinha alardeando uma "revolução moral" no Estado.
A demissão ocorre após a Folha ter revelado ontem que Barbour nunca trabalhou na Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) e, na Sabesp, no local onde ele disse estar comissionado (para presidência da empresa), não era conhecido nem pela secretaria que trabalha ali há sete anos.
Na reportagem da Folha, três ex-diretores da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) também afirmaram que não o conheciam.
O ex-secretário havia dito à Folha que tinha trabalhado na Sabesp "de 1992 até 31 de dezembro de 1994, na presidência".
No cadastro de pessoal da Comgás (de junho de 1994), ele aparece oficialmente como "ativo" e não como comissionado na Sabesp.
Além disso, ao ser perguntado se tinha assinado processos sobre os trabalhos executados na Sabesp, Barbour declarara que "não assinava documentos", porque "era um assessor especial, não era um assessor de aparecer".
A Sabesp, porém, já tinha informado à Folha que o ex-presidente da empresa, Luiz Appolonio Neto, só tinha quatro assessores executivos –e o nome de Barbour não constava dessa lista.
Barbour afirmara também que foi seu "amigo" Appolonio quem o levou para a Sabesp. Appolonio foi presidente da Sabesp a partir de abril de 1993 (antes, dirigia a Comgás). Barbour disse que trabalhou junto à presidência dessa estatal de "1992 a 1994".
Na entrevista que deu à Folha anteontem, Barbour declarou ainda que ganhava R$ 1.500 da Comgás. Ontem, a Folha apurou que o salário de dezembro de um "analista administrativo 4", função que Barbour deveria exercer na Comgás, era de R$ 1.800.
Carta de demissão
O advogado Sérgio Barbour, 52, entregou a sua carta de demissão ontem, no fim da tarde, no Palácio dos Bandeirantes.
Nela, o ex-secretário afirmou: "Diante do noticiário da imprensa, envolvendo meu nome, e reconhecendo que a sua obra de governo não deve sofrer qualquer dificuldade, sobretudo advinda de seus companheiros e amigos, venho por meio desta pedir o meu afastamento das funcões de secretário de Estado dos Negócios de Esportes e Turismo".
Na mesma carta, Sérgio Barbour disse ainda: "Continuo, porém, sempre à disposição do amigo e pronto a servir São Paulo no limite de minhas forças".
Ao anunciar a demissão de Barbour, às 19h45, Covas afirmou que "não sabia que Barbour era funcionário da Comgás" quando o indicou para a pasta.
O governador afirmou que ainda não tem o nome do novo secretário de Esportes e Turismo do Estado. Sobre a data da nomeação, Covas foi evasivo: "A gente nunca sabe quando vai ter o estalo".
Indagado sobre os cuidados na escolha do novo secretário (para evitar novo desgaste), Covas declarou: "Vou adotar o mesmo tipo de cuidado que adotei até agora. E se, por acaso, eu cometer erros, pagarei pelos erros que cometer".
Hesitação
Até as 16h de ontem, porém, Covas ainda hesitava em relação à demissão do secretário e dizia que Barbour seria mantido na pasta.
"Enquanto ele (Barbour) merecer minha confiança, fica", afirmara então. O governador disse também que Barbour tinha lhe dado explicações e que permaneceria na secretaria.
Até ali, Covas só anunciara a demissão de Barbour da Comgás –onde o ex-secretaria admitiu nunca ter ido para trabalhar.
Mas, ao ser perguntado pela Folha se convidaria Barbour para ser secretário se soubesse que seu assessor trabalhava na Comgás, Covas chegou a se irritar: "Ah, essa pergunta eu não vou responder".

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