São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Gays defendem 'ousadia' contra Aids

MÔNICA SANTANNA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Os participantes do 1º Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas que trabalham com Aids defenderam maior "ousadia" nas campanhas governamentais contra a doença.
O encontro foi aberto ontem na Universidade Popular do Trabalho, em Curitiba (PR), e reúne cerca de 300 representantes de ONGs (Organizações Não-Governamentais) de homossexuais. A reunião termina hoje.
A maioria dos participantes acha "tímida" a propaganda feita nos últimos anos pelo Ministério da Saúde.
"É necessário ousar mais", disse o presidente do grupo "Dignidade de Curitiba", Toni Reis.
Segundo ele, os homossexuais vão cobrar participação na elaboração das futuras campanhas e defenderam ainda a realização contínua dessas campanhas.
"Não dá mais para se pensar na prevenção da Aids apenas em determinadas épocas, como o dia 1º de dezembro (Dia Mundial de Luta contra a Aids)", afirmou.
Durante o encontro, foi lançado um folheto com um super-herói gay, que pretende esclarecer as principais dúvidas sobre Aids. Nos próximos três meses, serão lançadas mais três edições do folheto.
O super-herói é um personagem alto, forte, vestido com uma camiseta da cor verde que tem uma estrela cor-de-rosa estampada. A sunga é rosa também. Ele foi batizado de "Super Babado Forte".
Segundo Reis, a linguagem utilizada é mais popular. "Precisamos combater a desinformação e isso só pode ser feito de maneira mais direta", afirmou.
O folheto é uma espécie de revista em quadrinhos e explica, por exemplo, o que é a doença, o que são doenças sexualmente transmissíveis e que a via sexual é uma das principais formas de contágio.
Além de discutir sobre a elaboração das campanhas preventivas, os homossexuais assistiram a uma palestra feita por Robert Penn, presidente da Gays Men's Health Crisis, uma das maiores entidades de gays dos Estados Unidos.
Segundo Penn, a organização faz um trabalho de prevenção, assistência aos doentes de Aids e manifestações políticas. "Temos hoje 300 funcionários e 4.000 voluntários", afirmou.
Penn espera que as entidades no Brasil possam seguir o exemplo da entidade norte-americana. "A união é que determinará o fim da discriminação."
A Gays Men's Health Crisis foi fundada por quatro homossexuais em 1981 e entre as suas principais ações está, segundo Penn, a manutenção da assistência municipal de saúde aos doentes de Aids.
O encontro foi parcialmente restrito aos participantes. Foram abertas somente a sessão de abertura e a reunião com Robert Penn. As demais foram fechadas.
A coordenação do encontro disse que muitos dos participantes têm dificuldades em assumir a condição de homossexual.

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