São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Moda brasileira é tema de discussão

DA REDAÇÃO

Atitude publica hoje o último debate sobre moda, "Moda Brasileira", realizado no auditório da Folha em novembro. Os três debates, "Marketing e o Aspecto Comercial da Moda", "Tendências, Vanguardas e Modernidades" e "Moda Brasileira" tiveram patrocínio das microfibras Meryl e Setila e comemoraram um ano da página Atitude .
"Moda Brasileira" reuniu o editor de moda da revista "Vogue", Giovanni Frasson, o estilista Marcos Morcerf, a consultora de moda Costanza Pascolato, o produtor de desfile Paulo Borges e a coordenadora de desfile da Rhodia, Daniela Bongiorni e foi mediado pela editora de moda da Revista da Folha , Patrícia Carta.
Este último tema foi o que causou mais polêmica entre debatedores e público. Foram discutidos assuntos como conceito de moda brasileira, cópia, mercado e futuro da moda no país. Leia a seguir os principais trechos do debate.

Moda e mercado
Paulo Borges - É meio utópico se falar em moda brasileira em um momento em que as pessoas estão aprendendo a olhar o mundo de uma forma global. Acho que não deve existir uma moda brasileira regionalista.
A questão do Phytoervas Fashion está muito ligada a esse conceito de moda brasileira. Ele não surgiu num laboratório de marketing, não foi criado com a idéia de jogar uma marca para cima. Pegamos pessoas novas, que fazem a sua moda, que tem o seu estilo e juntamos num evento. Queríamos criar um embasamento e um calendário para que todo mundo começasse a vir para São Paulo para ver e comprar moda.
Giovanni Frasson - Só existe amadurecimento e fortalecimento de consumo e da moda se o Brasil conseguir criar uma estabilidade econômica e política. Nenhum país que tem desestrutura política e financeira consegue fazer nada. Nenhuma empresa vai investir se ela não tiver certeza de que ela está fazendo uma coisa certa. Ninguém vai comprar roupa se não tiver dinheiro, incentivo.

Cópia
Costanza Pascolato - Estamos trilhando um caminho próximo e individual, mais ligado àquilo que é o americano, ou seja, um país novo, com gente jovem. Então, o que vamos fazer? Promover um meio de continuar inventando idéias que são, na verdade internacionais?
Frasson - Somos copiados nos maiôs, de moda praia, tanto é que agora em Paris percebemos que temos que olhar não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro. O Brasil não é uma ilha. É uma questão de espírito. Temos que criar uma cultura de moda, uma tradição. Não se pode falar em moda brasileira comparando com a moda francesa, eles têm uma tradição de anos em termos de moda e a gente não tem isso. É uma coisa nova para nós.
Borges - Por que não copiar a tecnologia, que é uma coisa mais interessante? Moda foi feita para vestir, e não só para olhar. Temos que ver conforto, a temperatura do país, o corpo e as estaturas das pessoas.
Daniela - Não se pode proibir que uma pessoa que viajou, que viu texturas, tecidos, cores e formas, fique com todas essas informações na cabeça e que retrabalhe essas informações. Meu trabalho na Rhodia é uma pesquisa e adaptação dessas influências para o mercado nacional.

Conceito
Marcos Morcerf - O caminho da moda brasileira não pode estar dissociado de uma função de se analisar e observar a história da moda, de dar uma observada na moda do Brasil e do mundo.
Daniela Bongiorni - No último debate, foi comentado que a moda brasileira não é a pessoa se vestir de baiana, ou qualquer regionalismo. Moda brasileira é ter estilistas brasileiros.

Elitização
Costanza - Elitizar não é só cobrar caro, mas pensar melhor e de maneira mais educada, mais culta em termos de moda. Eu volto na história, nós estamos com pouca escola de cultura de moda.
Morcerf - Estou observando o mundo como ele está. Fico ligado ao internacional, mas ao mesmo tempo sem me preocupar em interpretar algum tipo de tendência para estar na moda. É mais ou menos isso. É difícil explicar um processo de criação até porque eu ralo muito mais na pequena confecção com o outro lado da coisa, em viabilizar o dia-a-dia do que com o processo de criação.

Futuro da moda
Marcos - As pessoas têm que investir na vivência delas. Aprender a ver, a diferenciar, não ficar no 'ah! isso é legal, isso não é'. Saber ver o meio termo, saber diferenciar até o que é brega do que é kitch, ter uma interpretação pessoal das coisas.
Frasson - Acho que temos que acabar com esse fantasma do preconceito que temos sobre nós mesmos. Deste colonialismo que temos na nossa cabeça, que somos do terceiro mundo, que temos que lutar, nos informar. Então, temos que acabar com essa babaquice de que nós somos colonizados, porque nós fomos colonizados.

A colunista Erika Palomino está em férias durante o mês de janeiro. A coluna Noite Ilustrada volta em fevereiro.

Texto Anterior: Festival de Roterdã abre com Polanski
Próximo Texto: MAM expõe gravuras de Isabel Pons
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.