São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Kean' estréia amanhã no Cultura Artística

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Peça: Kean
Direção: Aderbal Freire-Filho
Elenco: Marco Nanini, Débora Bloch, Angela Dip, Luciano Chirolli, Carina Cooper, Marcos Oliveira
Estréia: amanhã, às 21h
Entrada: R$ 10 e R$ 15 (quinta), R$ 13 e R$ 18 (sexta e domingo), R$ 15 e R$ 20 (sábado)
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, região central, tel. 011/258-3616)

Marco Nanini volta ao teatro Cultura Artística a partir de amanhã, protagonizando com Débora Bloch a peça "Kean". Sai desta vez o teatro do ridículo do norte-americano Charles Ludlam ("O Mistério de Irma Vap") e entram o romantismo de Alexandre Dumas e o existencialismo de Jean-Paul Sartre.
"Kean" é uma comédia aventuresca permeada por reflexões sobre a arte e o artista, em especial o ator. Nanini faz Edmond Kean, ator shakesperiano do século 18 que despertou o interesse de autores tão diferentes como Dumas e Sartre (leia texto ao lado).
Débora nterpreta Ana Damby, jovem ambiciosa apaixonada por Kean e pelo sonho de ser atriz. Na versão de Dumas, era uma mocinha romântica e tísica. Na de Sartre, que despertou o interesse da atriz, uma jovem teimosa e obstinada como sua intérprete diz ser.
"Adoro a peça, mas o convite da Débora foi mais marcante que o próprio texto. Ela repetiu comigo a cena de Ana com Kean", conta Nanini, referindo-se à cena em que Ana se humilha por uma chance de atuar ao lado de Kean.
Nem tudo é igual. Ana é péssima atriz, o que dá a Débora as melhores possibilidades para a comédia ("que eu adoro", diz a atriz).
Embora a presença de Nanini e Débora insinue um predomínio da comédia, o diretor Aderbal Freire-Filho, enfatiza a opção pelo equilíbrio: "A peça combina bem os sabores do teatro de ação e aventura com uma reflexão sobre a profissão do ator".
Para Débora, Nanini é o próprio Kean. "É um personagem que tem muito a ver com o temperamento de ator do Nanini", diz.
O ator, no entanto, se diz em dificuldades: "Kean implica comigo. Vou ensaiar, coloco minhas emoções e ele vai embora, me deixa como um idiota no palco. Me sinto distante por paradoxo, porque somos muito próximos".
Entre Dumas e Sartre, vaudeville aventuresco e teatro auto-reflexivo e não-comercial, "Kean" anda na corda bamba. Metateatro puro, a peça reflete sobre o ator e arrisca afastar-se do público.
Volta a se aproximar pelo "laço de intimidade entre a figura do ator e o espectador", segundo Freire-Filho, ou pelo teor "mistificador e ao mesmo tempo desmistificador do texto, que romantiza o ator mas mostra também seu lado escuro", segundo Débora.
Encontra, para Freire-Filho, o equilíbrio no humor: "A peça é aventura e reflexão cheias de humor e é esta a fonte do equilíbrio".
Elementos de atualidade não faltam. Kean é amigo do príncipe de Gales (Luciano Chirolli), com quem mantém dúbia e recíproca relação de admiração e inveja.
Remete diretamente ao Brasil de hoje, em que classe artística e poder voltam a se aproximar.
"A relação acontece exatamente nas mesmas proporções. O artista e o príncipe são o espelho da sociedade e se espelham entre eles mesmos, mas não deixa de ser estranho ver artistas no palácio, como acontece agora", diz Nanini.

Texto Anterior: Filmes sobre Aids são tema em festival
Próximo Texto: Ator era shakesperiano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.