São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Ieltsin quase dispara arma atômica

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente russo, Boris Ieltsin, usou nesta quarta-feira pela primeira vez a maleta preta que contém os códigos que destravam os dispositivos de segurança das armas nucleares da Rússia.
O motivo foi o lançamento de um foguete científico norueguês, erroneamente interpretado pela Rússia como sendo militar.
"Pela primeira vez usei a maleta preta que sempre me acompanha. Estive em contato com o ministro de Defesa e seguimos o trajeto do foguete do início ao fim", disse ontem o presidente.
Além de Ieltsin, apenas mais duas pessoas na Rússia têm a maleta preta: o ministro de Defesa, Pavel Gratchev, e o chefe do Estado-Maior, Mikail Kolesnikov.
O governo norueguês se disse ontem "surpreso" pela confusão em torno do foguete científico e pediu explicações à Rússia.
Segundo o porta-voz do ministério do Exterior, Ingvard Havnen, a Noruega informou em 21 de dezembro sobre o foguete à embaixada da Rússia em Oslo.
Segundo ele, foram respeitadas todas as formalidades e foram dados todos os detalhes. "Nos preocupa constatar que na Rússia existem sérias lacunas informativas", afirmou o porta-voz.
O porta-voz do governo russo, Valeri Grichin, confirmou na quarta-feira que Moscou havia sido avisado do lançamento pela Noruega.
O foguete estava destinado a estudar as auroras boreais. Ele foi lançado na quarta-feira da ilha Lofoten, na Noruega, e caiu a 300 km ao norte da ilha Spitzbergen, a mais de 1.000 km do território russo. O foguete atingiu a altura máxima de 1.453 km e ficou no ar durante 24 minutos.
Logo após o lançamento, três radares russos detectaram simultaneamente o foguete. A agência de notícias russa "Interfax" noticiou que a Rússia havia derrubado um foguete militar "proveniente de algum país da Europa do norte".
A notícia causou alarme e repercutiu nos mercados financeiros mundiais. O rublo e o marco alemão caíram em relação ao dólar.
Ieltsin elogiou ontem a "rápida resposta" das Forças Armadas russas ao detectar o foguete e a agência "Interfax".
"Alguém quis nos pôr à prova, já que a imprensa diz que nosso Exército está debilitado. Pensavam que não detectaríamos o foguete, mas em menos de um minuto sabíamos de onde ele havia sido lançado, qual a sua velocidade e onde ele iria cair", disse.
Vários analistas disseram ontem que Ieltsin quis engrandecer um incidente de menor importância por motivos políticos.
"Ieltsin quis recordar que a Rússia é uma potência nuclear", afirmou Pavel Felgenhauer, especialista em questões militares do jornal russo Sevodnia.
Diplomatas ressaltaram ontem que aparentemente Boris Ieltsin não tem intenção de fazer um protesto oficial contra a Noruega.

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