São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Cesp paga tucana para obter verba "verde"

Covas examina irregularidades funcionais nas estatais

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A ordem do governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), para que funcionários de estatais cedidos para trabalhar em outros órgãos voltem a seus empregos de origem, poderá lhe causar novos desgastes. Na semana passada, foi obrigado a demitir um secretário que era funcionário "fantasama".
Nas listas desses servidores, que terão até o dia 31 para voltar a seus empregos, há auxiliares e correligionários de Covas no PSDB. Alguns deles exercem atividades funcionais estranhas e suspeitas de irregularidades.

Tucana 'verde'
O caso mais curioso é o de Maria Tereza Jorge Pádua, que entrou na Cesp (Centrais Elétricas de São Paulo) em 1983, no governo do tucano Franco Montoro. Nos últimos dez meses, ela está morando nos Estados Unidos.
Com salário em novembro passado de R$ 3.453,00, Tereza foi cedida para trabalhar, em Brasília, no gabinete do deputado Fábio Feldmann (PSDB-SP), hoje secretário de Meio Ambiente de Covas.
Presidente do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) no governo Collor, Tereza afirma que sua tarefa nos EUA é arrecadar dinheiro para projetos ambientais.
"Sou mal paga pelo dinheiro que já consegui para o Brasil", diz. Segundo ela, desde que foi cedida para trabalhar com Feldman já obteve U$ 8 milhões para projetos ambientais.
Desde que está nos EUA, segundo Tereza, ela esteve seis vezes ao Brasil, com despesas pagas por órgãos não-governamentais. Aos 51 anos, reivindica há dois anos sua aposentadoria.
Outro caso curioso é o de Miguel Kosma, secretário-adjunto dos Transportes Metropolitanos. Amigo de Covas, consta da lista de servidores da Cesp que trabalham fora.

Aposentado
Mas ele próprio diz que não está cedido para trabalhar fora da Cesp. Funcionário da empresa desde 1969, passou três anos aposentado e voltou à estatal em junho de 1994.
Segundo Kosma, depois de três anos de aposentadoria, com pensão da Fundação Cesp, o INSS alegou que ele não tinha tempo suficiente para se aposentar.
A decisão, segundo Kosma, fez com que ele voltasse a trabalhar regularmente na Cesp, onde recebe salário de R$ 3.939,00. Em junho, porém, ele já trabalhava diariamente na campanha de Covas.
Com a vitória tucana, Kosma ganhou uma sala no escritório de transição do novo governo. Neste período, trabalhava em tempo integral com Covas.
O assessor nega que tenha trabalhado apenas na campanha. "Fazia um tempo na Cesp, outro na campanha. Na transição, fazia a mesma coisa". Não sabe se continuará na Cesp a partir do dia 31.
Gilda Portugal Gouveia, secretária-executiva do Ministério da Educação, é funcionária da Cesp cedida para trabalhar meio-expediente na Unicamp (Universidade de Campinas). Ganhava em novembro R$ 2.689,00.
O curioso é que, na outra metade do dia, Gilda é contratada como professora da Unicamp. Amiga do presidente Fernando Henrique Cardoso, ela diz que Covas já autorizou seu novo comissionamento da Cesp para o ministério.

Intelectual
A partir de 15 de fevereiro, Gilda muda-se de Brasília para São Paulo, onde será delegada do Ministério da Educação. Com o aval de Covas, vai continuar acumulando os empregos do ministério, na capital paulista, com o da Unicamp, em Campinas (99 km a noroeste de São Paulo).
No caso de Gilda, a legislação permite que médicos e profesores acumulem duas fontes de recursos públicos desde que em funções e horários diferentes. Mas ela diz que sua dupla jornada em um mesmo local de trabalho tem autorização da Comissão de Acumulação de cargos do governo estadual.

Assessor de Montoro
Na lista de servidores da Cesp cedidos a outros órgãos, consta também o nome do jornalista João Russo. Ex-assessor do governador Montoro, foi transferido para a Unicamp quando esse governo terminou. Em novembro, eu salário foi de R$ 2.373,00 .
Embora a Unicamp fique em Campinas, Russo permaneceu em São Paulo e, por mais de um ano, trabalhou no escritório político de Montoro. Mais tarde, foi comissionado na Secretaria da Cultura.
Diz que nem sempre comparecia à secretaria, mas que trabalhava redigindo discursos para o secretário. Apesar disso, afirma que assinava o ponto. Russo tem um escritório de assessoria de imprensa, onde trabalha diariamente.

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