São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Sim, o Ebola pode chegar ao Brasil"

O escritor Richard Preston fala com exclusividade sobre seu livro, "The Hot Zone":
–Como o sr. entrou em contato com o Ebola?
–Como jornalista, converso muito com cientistas. Um dia, dois deles mencionaram uma emergência terrível ocorrida em Washington. Disseram que o Ebola tinha aparecido por lá e que soldados com roupas espaciais haviam sido deslocados pelo Exército. Eu fiquei chocado ao ouvir isso. Pensei logo no romance "O Enigma de Andrômeda", de Michael Crichton. Só que de verdade! Então, contatei autoridades militares e consegui a permissão de entrevistar alguns dos oficiais envolvidos. E me fascinei pela história.
–Quando o sr. foi para a África?
–Aos 12 anos, passei uma temporada pelo continente com minha família. Fomos hóspedes de uma tribo zulu, comemos a comida deles e dormimos em suas cabanas. Foi uma experiência muito forte, que me emociona até hoje. Depois, voltei para a África em junho de 1993, como parte das investigações para "The Hot Zone". Neste período, visitei inclusive a caverna Kitum.
-O sr. não teve medo de se contaminar?
–Sim, muito, muito medo. Por isso, usei roupas espaciais e todo um equipamento próprio. Naquela altura, eu já tinha vivido algumas experiências nesta área: convenci o Exército norte-americano a me deixar entrar em laboratórios nível 4, em sua base em Frederick (Maryland). Eles me ensinaram todos os procedimentos e medidas de segurança para se lidar com um vírus fatal e desconhecido como o Ebola.
-A população africana que vive próxima à caverna sabe da existência do vírus?
–Parte da população local, sim. Eles ouviram algo sobre uma doença muito perigosa que surgiu por ali. No entanto, acho que por estarem lá há várias gerações, não parecem muito assustados. Afinal, eles têm outras doenças com que se preocupar: malária, febre amarela e, claro, a Aids.
–O Exército norte-americano tentou impedir a publicação do livro de alguma maneira?
–Até onde eu sei, não. Há uma lei nos Estados Unidos que faculta ao Exército tornar certas informações "classificadas" e proibir sua divulgação. Se uma operação do governo não está nesta situação, o acesso do público é irrestrito. Basta requerer. Quando notaram que eu estava fazendo muitas perguntas sobre o assunto, também perceberam que ninguém havia "classificado" estas informações. Então, só lhes restava cooperar..

Texto Anterior: A carreira de mortes até agora
Próximo Texto: "Sim, o Ebola pode chegar ao Brasil"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.