São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Professora pode ter sido morta por racismo

PAULO GRAMADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A morte da historiadora e professora Maria Beatriz do Nascimento, 52, pode ter sido motivada por racismo, afirmou ontem Ivanir dos Santos, secretário-executivo do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas).
O corpo de Beatriz, assassinada com cinco tiros no sábado, em Botafogo (zona sul), foi enterrado ontem às 13h, no cemitério São João Batista. Cerca de 300 pessoas, entre amigos e militantes do movimento negro, acompanharam o enterro.
Segundo a polícia, Maria Beatriz foi assassinada pelo preso albergado Jorge Amorim Viana, conhecido por "Danone", que está foragido. Ele teria matado a professora por esta ter aconselhado sua namorada a abandoná-lo, porque "Danone" costumava bater na companheira.
"Toda a comunidade negra está indignada", afirma Ivanir dos Santos. "O problema é que ele não aceitou a ingerência de uma pessoa negra no relacionamento."
A família de Beatriz, no entanto, não acredita em motivação racista para o crime. Isabel do Nascimento, irmã da historiadora, diz que o problema não é o racismo e sim "a impunidade que campeia no país". Ela afirma que não consegue ver o crime isoladamente.
Segundo estatísticas do Ceap, que a pedido da família vai acompanhar as investigações da polícia, este é o quinto assassinato de militantes do movimento negro no Rio em menos de um ano.
Uma reunião de militantes estava programada para ontem, às 19h, para tentar um encontro com o ministro da Justiça, Nelson Jobim, para relatar os casos.
"O secretário de Segurança do Rio, Euclimar da Silva, tem um encontro com o ministro hoje e vamos tentar encaminhar um relatório do caso da Beatriz para ser discutido", disse Ivanir dos Santos.
Maria Beatriz Nascimento era uma das maiores especialistas brasileiras em história dos quilombos. Ativista dos movimentos negro e feminista, ela fazia mestrado em comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Segundo seu orientador, o professor Muniz Sodré, ela pretendia relacionar a história das mulheres negras aos quilombos.
Beatriz fez o roteiro do filme "Ori", dirigido pela historiadora Raquel Gerber, da USP. Divorciada, ela tinha uma filha, Betânia, 25, que trabalha em Nova York, no balé do Harlem.

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