São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Publicidade revela credo do anunciante

FERNANDO MOLICA
EDITORA NEGA POLÍTICA PRECONCEITUOSA

A origem cristã do ``Página Azul" gerou uma política discriminatória em relação aos anúncios que podem ser publicados.
Segundo Phinéas Valladão Filho, o guia não é uma publicação religiosa, mas cristã: daí a predominância de anunciantes evangélicos e a presença discreta de católicos. Uma exceção foi aberta para os judeus. Ainda que não "aceitem" Jesus Cristo, eles podem anunciar no "Página Azul".
"Eles, os judeus, formam o povo escolhido por Deus. Não poderia deixar de aceitá-los", afirmou o editor.
Valladão afirma que não aceitaria, por exemplo, anúncio de uma casa de artigos de umbanda. Bares e outros estabelecimentos dedicados à venda de bebidas alcóolicas também ficam de fora (os evangélicos, de um modo geral, condenam o consumo de álcool). "O guia tem de refletir estes princípios", justificou.
O ecumenismo limitado de Valladão não o impede de preferir comprar em estabelecimentos pertencentes a outros evangélicos. "Afinal, ele (o comerciante) é meu irmão de fé".
Para que não haja dúvidas quanto ao credo de cada empresário, os anúncios são acompanhados de símbolos que identificam sua religião: um peixinho identifica os evangélicos; uma cruz, os católicos; uma estrela de David, os judeus.
Valladão nega que exista preconceito. De acordo com ele, os símbolos, ao contrário, servem para demonstrar que sua editora não quer apenas anúncios de evangélicos.
Para dar prova de sua compreensão, ele conta que atendeu ao apelo de um comerciante que não queria ver sua religião identificada no anúncio. Isso porque, apesar de comercializar produtos destinados a evangélicos, ele é católico.
Um dos anunciantes, Raimundo Atanázio Costa, espera que a iniciativa ajude a "reforçar os laços" de seu restaurante com os evangélicos. Ele é sócio do Gospel (Evangelho), que fica na Tijuca (zona norte do Rio) e frequenta a Igreja Universal do Reino de Deus.
Para o antropólogo André Mello, a organização do mercado evangélico ficou mais evidente a partir da década de 80. Segundo ele, esse processo foi liderado pelas empresas ligadas ao setor de comunicação, principalmente editoras e rádios.
Mello afirma que a organização dos empresários evangélicos gerou a criação, no Brasil, da Adhonep (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno), inspirada em organização semelhante existente nos Estados Unidos. Valladão é membro da Adhonep.
(FM)

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