São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995 |
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Suspeito diz que apenas fez `alerta mediúnico'
WALACE LARA
O ex-oficial da chancelaria desafia o Itamaraty nega o atentado: "Eu quero que eles apresentem as provas". A seguir, trechos da entrevista dada por Mirândola na 25ª delegacia de Poços de Caldas. Folha - Foi o sr. quem enviou o livro-bomba? Jorge Mirândola - Não. Eu fiz somente um alerta mediúnico. Folha - Como assim? Mirândola - Sou médium kardecista. Recebi sucessivas comunicações de que alguém iria enviar uma bomba para o Itamaraty. Folha - Mas então quem mandou o livro-bomba? Mirândola - Eu não sei quem mandou, mas se eu soubesse quem era essa pessoa, eu poderia saber os números que vão dar na loteria. Poderia ser milionário. Toda a semana eu ganharia (risos). Folha - O que o sr. está tentando comprovar através da sua faculdade mediúnica... Mirândola - Eu não estou tentando comprovar nada. Os fatos falam por si só. Não é a primeira vez que eu avisei o Itamaraty que alguma coisa errada iria acontecer. Só que das outras vezes eles se aproveitaram disso. Dessa vez eles querem me transformar do autor do alerta, para o autor do livro-bomba. Isso é uma piada. Porque tem de ter prova. Certo? Porque se não, eles vão ficar desmoralizados. Folha - Quanto é o salário que o sr. recebe? Mirândola - É um salário pequeno. Cerca de R$ 900,00. Folha - O sr. ficou revoltado porque teria sido demitido? Mirândola - Até agora não me chegou a notícia de que eu tenha sido demitido do meu cargo. Eu continuo como oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores. Eu continuo na ativa. Folha - O sr. está afastado do emprego desde 1981, mas continua recebendo? Mirândola - Recebi o meu salário normalmente até o final da Revolução de 64. Depois quando o Collor entrou, cortaram o meu pagamento uns três ou quatro meses. Quando eles viram que eu iria voltar ao trabalho e me colocaram em disponibilidade. Passei dois anos recebendo. Depois meu salário foi cortado e parece que recentemente voltaram a depositar na minha conta, mas eu não tenho certeza porque não solicitei nenhuma ordem de pagamento. Folha - Por qual motivo o colocaram em disposição? Mirândola - Fui impedido (em 1981) de trabalhar porque escrevi uma carta para o general Figueiredo, protestando contra a venda de urânio para o Iraque para a fabricação de bombas atômicas. A partir dessa data, um grupo de embaixadores que tinha vinculação com a exportação de urânio e também com a exportação de frangos e foguetes, com a Avibrás e outras fábricas de material bélico que exportavam para o Iraque, acharam por bem me afastar para não influenciar mais o general Figueiredo no sentido de suspender o envio de urânio para o Iraque. Folha - O sr. tem provas que foi afastado de 81 até agora, que não foi demitido e que o sr. recebeu essas mensagens e que as cartas são verdadeiras? Mirândola - Quem tem que provar alguma coisa são eles. Não sou eu. Eu estou dizendo para você que eu sou funcionário. Folha - O sr. conhecia a funcionária que foi atingida? Mirândola - Não. Estou fora do ministério há mais de 16 anos. Agora, ela tem sobrenome judeu. Folha - E o que o sobrenome judeu pode significar? Mirândola -Ali tem uma máfia de embaixadores ligados ao Iraque que não gostam de judeus. Folha - O sr. teme ficar preso? Mirândola - Fui convidado para prestar declarações. Acho um procedimento normal. Não me surpreendi com essa história. Texto Anterior: Itamaraty pediu exame psiquiátrico Próximo Texto: Recibo bancário deu pista para a localização Índice |
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