São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para artistas, estátua de Senna é cara

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DO RIO

Segundo eles, escultura de R$ 89 mil que vai ficar na entrada de túnel é `batmóvel'; preço é de mercado, diz prefeitura
Galeristas e artistas plásticos acharam muito alto os R$ 89 mil pagos pela prefeitura pela escultura que vai homenagear Ayrton Senna. A obra é da artista Melinda Garcia, 44, e vai ficar na saída do túnel que leva o nome do piloto.
O prefeito Paulo Maluf, em visita ao túnel que será inaugurado sábado, fez um comentário irônico sobre a obra. ``Você quer um lide para a sua matéria? Diga que a estátua do Senna veio sem cabeça." O jornalismo uso o termo lide para resumir a função do primeiro parágrafo: introduzir o leitor no texto e prender sua atenção.
Não houve concurso nem licitação pública para escolha da escultura. Os galeristas dizem que pelo preço a prefeitura poderia comprar obras de artistas respeitados internacionalmente.
``Daria para comprar uma instalação do Cildo Meireles, que custa US$ 70 mil e já esteve exposta no Museu de Arte Moderna de Nova York, ou uma escultura do Tunga, que a prefeitura de Nova York comprou em Paris por US$ 80 mil", disse Luísa Strina, dona da galeria de arte que leva seu nome.
Segundo Regina Boni, da Galeria São Paulo, com metade do que a prefeitura pagou seria possível adquirir uma peça grande (2 m por 2 m) do ``maior escultor brasileiro ainda vivo, Amilcar de Castro".
Boni e Strina acharam a obra de Melinda Garcia ``ginasiana". ``É um horror, parece o Batmóvel", disse Strina.
Para o artista plástico Luis Paulo Baravelli, o carro estilizado por Melinda é ``um típico trabalho de uma artista escolhida do bolso do colete do prefeito".
O que também irrita os galeristas é o fato de Maluf não ter consultado especialistas antes de comprar a obra. ``Quem o Maluf pensa que é para escolher uma obra de arte?", perguntou Regina.
Maria Aparecida Lomônaco, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da prefeitura, disse que, a partir de uma indicação do prefeito, dois arquitetos e um artista plástico aprovaram o trabalho de Melinda. Sobre o preço, Lomônaco disse ser ``de mercado".
Melinda também é pouco conhecida no Rio. O crítico de arte Ferreira Gullar não a conhece.
O diretor do MAM/RJ (Museu de Arte Moderna), Marcos Lontra, diz: ``O nome não me é estranho, mas não conheço". A diretora do MNBA (Museu Nacional de Belas Artes), Heloísa Aleixo Lustosa, também não a conhece.
``Acho isso tudo ridículo", rebate Melinda. ``Não me preocupo com o que está na moda, por isso alguns acham meu trabalho comercial." Ela disse que cobrou ``um valor simbólico". ``A escultura mede 5 m por 3,3 m e custou 11 meses de trabalho."
Melinda participou de 20 coletivas de artes no Rio, São Paulo e Brasília e tem várias obras decorando entradas de edifícios do Rio, como o Miramar, na elegante av. Delfim Moreira, no Leblon (zona sul). Sua escultura ``Os Peixes" está exposta no Museu de Arte Brasileira, em São Paulo.

Texto Anterior: Polícia faz apreensão de alimentos
Próximo Texto: PL decide na terça se rompe com prefeito
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.