São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995 |
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Vanguarda holandesa cria aos 62 anos
ANA FRANCISCA PONZIO
Autora de uma dança personalíssima, Châtel realiza uma simbiose entre o que se produziu de melhor neste século nos Estados Unidos e na Europa. Húngara de nascimento, nos anos 60 ela mudou-se para Essen, meca da dança expressionista alemã. Lá estudou com Kurt Joos, o célebre autor do balé ``Mesa Verde" e um dos pais do expressionismo. Suas colegas de classe na Escola de Folkwang eram Pina Bausch e Reinhild Hoffmann. Em 1969, Châtel foi para Amsterdã, onde completou sua formação com Koert Stuyf, considerado o mais vanguardista coreógrafo holandês da época. A etapa seguinte ocorreu nos Estados Unidos, quando entrou em contato com Merce Cunningham e Martha Graham. Em meio a estes expoentes, Châtel conseguiu desenvolver um estilo próprio. ``Gosto dos contrastes, do confronto de extremos", disse ela à Folha. ``Cunningham se apega demais às formas, enquanto Bausch tem uma dramaticidade inversa à minha. Sou mais sutil, estou interessada nos pequenos gestos e no espaço puro, onde posso explorar todas as dinâmicas de movimento." Ela acha que sua dança é fundamentalmente abstrata, o que não descarta a tênue sugestão narrativa de seus espetáculos. Mesmo desenvolvendo ricas sequências de dança pura, por vezes minimalistas, seus bailarinos insinuam personagens, emoções e jogos de relacionamentos, só que por canais emotivos bem delicados. A capacidade de produzir um impacto dramático com uma grande economia de meios é a melhor definição para o estilo de Châtel. Com seu grupo, fundado em 1976, ela já realizou mais de vinte produções. O requinte cênico é outra característica da coreógrafa, que não abusa de recursos, mas escolhe elementos essenciais. Nesse aspecto, ela também tem boa escola. É em Oskar Schlemmer, artista da Bauhaus, que Châtel costuma se inspirar para construir seus espaços cênicos. ``Schlemmer foi um escultor que usou divinamente os espaços. Também meus figurinos têm referências em sua obra." Realizando uma síntese dos extremos, Châtel acha que o controle do cérebro implica no controle de regiões não aparentemente correlatas. ``Para se controlar o cérebro é preciso também saber usar a pélvis." ``Em dança, temos que reconciliar extremos, saber equilibrar o negativo e o positivo, o dia e a noite, o caos e a harmonia, o amor e ódio, o corpo e o espírito, o cérebro e as nádegas." ``Muralis" Em ``Muralis", mais recente criação de Châtel, apresentada terça-feira passada na abertura do Festival de Nouvelle Danse, a coreógrafa harmoniza seus conceitos. O único elemento cênico do espetáculo é um imenso muro dourado, com um balcão barroco, que corta o palco em diagonal. Em dois longos atos, ``Muralis" desenvolve-se na primeira parte sobre o ``Quinteto para Cordas em Dó Maior", de Schubert. Após o intervalo, aparece o esqueleto do muro, sem revestimento, em cuja estrutura permanece apenas o balcão. Entre os bailarinos, que dançam sem música, há uma troca de papéis: quem antes dançava no espaço mais amplo do chão, agora ocupa as pequenas dimensões do balcão. ``Depois de se valerem da fluência da música, os bailarinos têm que encontrar sua própria dinâmica no silêncio da segunda parte. De um espaço grande, passam a se mover num espaço menor e essas pequenas mudanças criam uma certa loucura", diz a coreógrafa, que hoje lidera o movimento da nova dança holandesa. Texto Anterior: Filme de Amiel é thriler policial Próximo Texto: Paulo Moura estréia show no Supremo Índice |
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