São Paulo, sábado, 7 de outubro de 1995 |
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Michael Jackson volta em caixa de CDs e biografia
BIA ABRAMO
O enigma Michael Jackson transpira nas canções que fizeram dos Jackson Five os principais artistas da Motown nos anos 70, coisa que não acontece na recém-lançada biografia do astro escrita por Christopher Andersen, biógrafo não-oficial de Madonna. Michael é o tipo do sujeito impossível de biografar -ele nunca vai contar a verdadeira história e, sem que ele conte, não se pode chegar a qualquer revelação surpreendente. ``Michael Jackson - Uma Biografia Não-Autorizada" se limita a sistematizar o que todos já sabem: a infância brutalizada pelo pai, o isolamento advindo do estrelato, o não-amadurecimento sexual, a obsessão pela infância etc. Anderesen chega a elaborar uma teoria para explicar as excentricidades de Jackson, mas trabalha mais com hipóteses e informações de segunda mão (ele inclui uma lista de fontes no final) do que com material realmente explosivo. Se na sua vida pessoal Michael conseguiu se tornar um verdadeiro mestre na arte do esconde-esconde, a música da sua extrema juventude revela mais do que oculta. A caixa é quase uma overdose de Jackson Five -para quem não é fã de carteirinha, bastavam os CDs 1 e 4. O primeiro porque registra a explosão do grupo e o último porque reúne 18 faixas raras e inéditas. Para além do fenômeno pop -em seu auge, nos anos 70, Jackie, Tito, Marlon, Jermaine e Michael viraram personagens de desenho animado e tinham seus rostos estampados em caixas de cereal-, o grupo era produto típico da Motown: música negra sensual, suingante e incendiária cuidadosamente embrulhada como presente para os brancos, tarefa ainda mais fácil no caso, uma vez que os meninos eram irmãos e muito jovens. O que Berry Gordy, o todo-poderoso chefão da Motown (a mais importante gravadora de música negra dos EUA nos anos 60 e 70, que lançou nomes como Diana Ross, Marvin Gaye e Stevie Wonder) queria vender era justamente essa sugestão de sexo embalada em inocência. Eles eram tão doces, tão ``família" -a despeito do caos e da barbárie de sua vida familiar real- que podiam soar funky e provocadores à vontade. Esqueça os sucessos melosos, como ``I'll Be There" e ``Ben", a outra face do projeto: oferecer um antídoto seguro, mas que fizesse boa música à época de sexo, drogas e rock'n'roll. Claro, ela era tão importante que seu quarto disco (70), por exemplo, se chama ``The Jackson Five Christmas Album", só com canções fofas de Natal. O melhor está em faixas como ``Stand!", ``I'll Bet You" (do rei do funk George Clinton), ``The Young Folks" -todas do CD 1-, nas quais a combinação perversa e viciante de candidez -o falsete de Jackson em primeiro plano-, ritmo selvagem e sensualidade atinge seu grau máximo. Ao lado da intensidade do pequeno Michael, o homem adulto (na falta de uma classificação mais precisa) de hoje não passa de caricatura da criança genial. O livreto que acompanha os CDs vale uma atenção especial: quem escreve é David Ritz, um especialista em Motown, autor da belíssima biografia de Marvin Gaye, ``Divided Soul" e co-autor do hit ``Sexual Healing", de Gaye. Caixa: Soulsation! Michael Jackson with the Jackson Five Formato: 4 CDs, mais livreto Lançamento: Motown/PolyGram Preço: entre R$ 100 e R$ 120 Livro: Michael Jackson - Uma Biografia Não-Autorizada Autor: Christopher Anderesen Preço: R$ 29,90 Texto Anterior: Sherlock de Jô fala português de Macau Próximo Texto: Anne Teresa faz novos desafios ao corpo Índice |
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