São Paulo, sábado, 7 de outubro de 1995
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Um tucano de gaiola

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Dizem os entendidos que certos tipos de pássaros, uma vez condicionados à rotina da gaiola, não sobreviveriam em liberdade. Incapazes de obter comida por conta própria, feneceriam à míngua.
Isso sempre me pareceu conversa de criador para manter os bichinhos presos. Na última semana, porém, após algumas tentativas frustradas de vôo livre, os tucanos retornaram ao viveiro do PFL.
O episódio do Banco Econômico, como se sabe, deu asas a Fernando Henrique. Em reunião com líderes partidários, à época, o presidente chegou mesmo a dizer que era necessário conter o ``mito" ACM. O PFL não seria, de resto, o único provedor de alpiste do Congresso.
Havia a perspectiva de acertos pontuais com legendas mais à esquerda. Voa daqui, cisca dali, PT e PDT não responderam afirmativamente aos acenos do tucanato. Acenos algo dispersos e tímidos, diga-se.
Restou o PMDB. O Planalto tentou acomodar Aloysio Nunes na presidência do partido. Frustrada a articulação, aceitou Alberto Goldman. Mas os peemedebistas saíram-se com Paes de Andrade, filhote de Orestes Quércia.
Com as reformas constitucionais penduradas no Congresso, o tucanato teve de retornar à gaiola do PFL. A volta foi sacramentada em almoço no Alvorada, na quarta-feira.
Diante do ``mito" ACM, Fernando Henrique disse que considera fundamental a manutenção da aliança PFL-PSDB. Ouviram-no, além de ACM, Tasso Jereissati, Artur da Távola e Jarbas Vasconcelos. Em encontros anteriores, o presidente já havia se acertado com Luís Eduardo Magalhães.
Tudo voltou ao normal. Pelo telefone, Fernando Henrique cumprimentou o novo presidente do PMDB. Simultaneamente, planeja investidas na ala de peemedebistas aborrecidos com a eleição de Paes de Andrade. Pensa também em aproximar-se um pouco mais do PPB, ex-PPR, ex-PDS, ex-Arena.
Fernando Henrique continuará, assim, entoando seu canto para todos os que se dispuserem a chegar perto da gaiolinha. Mas sabe que, na hora em que a fome apertar, continuará comendo na mão do PFL.

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