São Paulo, segunda-feira, 9 de outubro de 1995
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Fingermann exibe marcas da memória na pintura

MARA GAMA
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

Exposição: Pinturas Recentes
Artista: Sergio Fingermann
Onde: 1º andar do Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578, tel.011/251-5644)
Quando: 11 de outubro a 12 de novembro
Horário: terça a domingo, das 11 às 18h; quinta das 11 às 20h
Abertura: 10 de outubro, às 19h
Preços: de US$ 8 mil a US$ 20 mil

O acúmulo do tempo é o tema central da pintura que o artista plástico Sergio Fingermann mostra a partir do dia 11 no Masp.
A exposição traz 30 acrílicos sobre tela, em grandes dimensões, da produção recente do pintor. Sua última individual foi em 1992, no Museu de Arte Moderna do Rio.
``É um corte dentro do que tenho produzido. Vou expor a metade das telas que fiz no último ano e meio", diz Fingermann, 42.
A mostra poderia ser subdividida em grupos de telas de características próprias. Um dos traços mais fortes, presente em todas elas, é a vontade do artista de ``evocar a memória do espectador" com inscrições, estruturas em grades, desenhos e manchas que parecem ``carimbados" na tela pela ação da água sobre o ferro.
Fingermann trabalha, por vezes, com a tela na horizontal e uma tinta muito líquida, deixando acumular o pigmento em pontos que criam uma ``escrita" no quadro.
A ``ferrugem" das telas -obtida da tinta com óxido de ferro- dá idéia de que algo foi dali retirado, só ficando sua inscrição, a marca de sua passagem.
``Acho que o trabalho tem de provocar uma estranheza. Pintura tem a ver com enigma", diz.
Na hora de selecionar o que entraria na exposição do Masp, Fingerman priorizou as grandes telas, para envolver o público. ``O trabalho que estou fazendo propõe uma relação física. Fica mais didático".
As telas de Fingermann querem mostrar ao espectador o processo de construção da pintura, com suas dúvidas e possibilidades.
``Quando começo, não sei o que vou pintar. O processo vai se estruturando e, nele, surgem caminhos diferentes. Quis incluir na exposição as três direções que a minha pintura tomou, para mostrar que não é possível ter certeza no processo criativo", diz o artista. ``A dúvida oxigena a exposição".
Superando o que chama de ``pintura narrativa", a tentação de contar uma história no quadro, Fingermann depurou seu trabalho. Na mostra do Masp, podem ser vistos três caminhos. ``Algumas telas têm uma característica mais emocional. Procuro resolvê-las de uma maneira mais romântica, como se uma pincelada, um gesto desse conta da pintura", diz.
Um outro grupo de telas mostra uma atitude mais racional: ``Tento construir um espaço. Essas telas têm normalmente uma grelha ou trama e uma mancha que se insere no espaço criando um debate".
A ilusão de um código, pela repetição de pequenos desenhos, é a imagem sugerida pelo terceiro grupo de telas. ``Essas pinturas têm uma característica mais poética, lírica, que inclui a idéia de seriação", diz Fingermann.
Se no Masp estarão apenas as grandes telas, a série completa das pinturas de Fingermann está no livro que serve de catálogo para a exposição, com texto com versões em francês e inglês.
Uma outra sala do Masp vai exibir, simultaneamente, as sete gravuras que integram o álbum-livro ``Topologia do Encontro", que Fingermann produziu com o artista americano Bob Nugent e que são acompanhadas por uma poema de José Paulo Paes.
O projeto foi idealizado pelo artista Otávio Roth, que morreu antes que o livro estivesse pronto.
Para o livro, Fingermann e Nugent fizeram cada um uma matriz de gravura, imprimiram séries, trocaram várias vezes as matrizes e, depois, fizeram uma última tiragem, com sete imagens. As gravuras foram aquareladas posteriormente por Fingermann. O álbum será vendido por R$ 3 mil.

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