São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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Lodo de esgoto vira adubo no Paraná

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O lodo resultante do tratamento do esgoto doméstico de Curitiba está sendo utilizado como adubo orgânico em lavouras de cidades próximas à capital paranaense.
Ainda em caráter experimental, o projeto de reciclagem agrícola do lodo pode elevar em 40% a produtividade do milho, conforme testes feitos pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do PR).
O lodo é rico em nitrogênio e fósforo, elementos essenciais para a sobrevivência da planta.
Iniciado há cinco anos, o projeto é coordenado pela Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) e conta com a participação de diversas instituições de pesquisa do Estado.
Segundo Cleverson Andreoli, coordenador técnico do projeto, na França cerca de metade do lodo de esgoto tratado é usada como adubo. Nos Estados Unidos, o percentual ultrapassa 30%.
``O projeto pode ser uma solução para o aproveitamento do lodo, que hoje é jogado em lagoas a céu aberto", diz Andreoli.
O lodo é formado basicamente por matéria orgânica, mas costuma conter metais pesados, bactérias, protozoários e ovos de helmintos (vermes intestinais).
Para tornar possível a reciclagem agrícola, a Sanepar passou a tratar o lodo por meio de cal virgem e compostagem.
Com o uso de cal virgem, conseguiu-se eliminar totalmente protozoários, bactérias e diminuir de 85% a 97% a quantidade de ovos de helmintos no lodo.
O setor de parasitologia da UFPR (Universidade Federal do PR) está pesquisando se os ovos restantes mantêm a viabilidade de se transformar em vermes.
``A redução drástica desses ovos é importante para o projeto, porque há regiões onde até 90% da população está contaminada com helmintos", diz Andreoli.
A colocação de lodo nessas regiões poderia elevar o nível de verminose na população.
Segundo ele, o projeto descarta a utilização do lodo em hortaliças, até que a pesquisa consiga tratá-lo a ponto de eliminar a possibilidade de contaminação da população.
Outro método testado é a compostagem, por meio do qual mistura-se o lodo com matéria orgânica resultante das podas de árvores.
A mistura fermenta e sua temperatura cresce até 80º Celsius. ``Esse método tem se mostrado mais eficiente na redução ou eliminação dos helmintos", afirma.
Pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) constatou que a concentração de metais pesados no lodo é dez a cem vezes menor que os níveis permitidos no Canadá e na França.
Até 96, a Sanepar estará coordenando testes da aplicação do lodo em cidades próximas da região metropolitana de Curitiba.
Os testes, que começaram em setembro passado, serão feitos nas culturas de milho, feijão, bracatinga (árvore cuja madeira é comercializada), algodão, girassol, pastagem, grama e mudas de frutas.
Se os testes derem certo, Andreoli acredita que, até meados de 97, o governo do PR envie à Assembléia Legislativa um projeto de normas para o uso do lodo.
Até 96, US$ 580 mil serão investidos no projeto pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e governos do Estado e da França.

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