São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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Paredes também vem ao Brasil

CRISTINA ZAHAR
DA REVISTA DA FOLHA

A atriz espanhola Marisa Paredes, 49, é a protagonista de ``A Flor do Meu Segredo", o mais recente filme do diretor Pedro Almodóvar. Nele, Marisa vive Leon, uma escritora de romances água-com-açúcar em crise.
A atriz estará no Brasil a partir do próximo dia 18. Ela vem junto com Almodóvar e a atriz Rossy de Palma para a pré-estréia de "A Flor de Meu Segredo" na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dia 19.
Em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, de Madri, Marisa falou do trabalho com Almódovar e de seu personagem em ``A Flor do Meu Segredo".
``Quando o filme começa, ela é um personagem frágil, que não consegue mais escrever e que tenta recuperar o amor do marido."
Segundo ela, este é um filme típico de Almodóvar, no qual o humor está sempre presente. ``Mas o mais importante é a emoção. A paixão, o desejo, a solidão, tudo transpira emoção. Até quando os personagens salivam."
O Brasil também está presente no filme na canção que encerra a trama, ``Tonada de Luna Llena", cantada por Caetano Veloso.
É a terceira experiência da atriz com Almodóvar. As anteriores foram ``De Salto Alto" (1991), em que interpreta a cantora Becky del Paramo ao lado de Victoria Abril, e ``Entre as Trevas" (1983), no qual faz uma freira.
Marisa é toda elogios quando o assunto é Almodóvar. ``Ele é insaciável e persistente. Não acho que seja duro e sim exigente. Agora ele está mais relaxado e tranquilo, o que se reflete na direção e no trato com os atores."
Para ela, o diretor é uma pessoa cheia de energia e paixão. ``O que às vezes pode ser considerado como algo pesado."
A dureza de Almodóvar já é conhecida. Carmen Maura, estrela de seus filmes até 89, brigou com o cineasta porque ele esqueceu de comprar passagem para que a atriz o acompanhanhasse na cerimônia do Oscar naquele ano. Almodóvar foi indicado na categoria melhor filme estrangeiro por "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
Teatro
Nascida em Madri, Marisa debutou no teatro aos 15 anos. Chegou a frequentar por alguns meses o Conservatório Dramático de Madri. Mas logo começou a representar. "Fiz também muita televisão nos anos 60. Adaptações de teatro e de romances para a TV", conta. Foi nessa época que começaram suas incursões no cinema.
Tão cedo não pretende retornar aos palcos. Uma curta exceção -de apenas três dias- aconteceu no último Festival de Teatro de Merida, no qual atuou dirigida por Miguel Bosé. "Continuo recebendo propostas teatrais mas acho difícil voltar agora. O cinema tem me oferecido oportunidades mais interessantes."
Enquanto roda o mundo para promover seu último filme, evita pensar nos próximos trabalhos. Gostaria de fazer comédia, embora prefira interpretar personagens complexos. "Se são divertidos, melhor. Mas esse tipo de personagem tende mais ao drama."
Avessa a mitos, Marisa diz que as referências que tem na vida são as pessoas "honestas e íntegras com as quais convive. "Quando gosto de alguém, busco absorver da pessoa o que mais gosto."

Cinema europeu
A atriz acha que só há uma maneira de o cinema europeu combater o americano. "Os americanos têm o dinheiro e os canais de distribuição, que são muito importantes. É uma batalha que poderíamos considerar perdida de antemão. A solução é usar talento e imaginação. Não há outra possibilidade."

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