São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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O FHC vaidoso volta a atacar

LUÍS NASSIF

Nos últimos meses, o FHC vaidoso voltou a ser dominante sobre o FHC inteligente. As ``fusquinhas" e provocações do presidente da República contra os que reclamam da recessão demonstram enorme carência de sensibilidade política.
O presidente não está falando com opositores ou sabotadores do Real. Está se dirigindo a um contingente apreciável de brasileiros honestos e trabalhadores, muitos dos quais foram seus eleitores, que estão sofrendo na carne os efeitos dessa política de juros irracional.
Se não dispõe de suficiente discernimento para perceber os equívocos da política monetária, o mínimo que se esperaria do mais alto mandatário do país é a compostura de não tripudiar sobre suas vítimas, a interrupção das provocações gratuitas contra aliados políticos e a competência para conduzir reformas polêmicas -por consensuais, as reformas do primeiro semestre não exigiram arte nem engenho.
E deixar de passar a impressão de que as dificuldades estão lhe subindo à cabeça.

Dorothea e o café
Hoje de manhã será decidido o futuro da cafeicultura brasileira -se como setor moderno, voltado para a busca da produtividade, ou como setor anacrônico, preso aos velhos interesses cartoriais.
A bola está com a ministra da Indústria, do Comércio e do Turismo, Dorothea Werneck. Em reunião com lideranças do setor, a ministra decidirá se o governo utilizará ou não seu poder de retaliação para reinstituir o cartório das cotas no setor. Ou se libera definitivamente o mercado, para que o setor possa prosperar sem as manobras de bastidores que historicamente enriqueceram meia dúzia às custas da perpetuação do atraso.
A história começa no ano passado. Em meio a um quadro claro de escassez de café, que já havia provocado a recuperação das cotações internacionais, um grupo liderado pelo presidente da poderosa Federação dos Cafeicultores da Colômbia, Jorge Cárdenas, apresentou proposta de os países produtores instituírem cotas de exportação, para prevenir a formação de estoques em mãos dos compradores. Não havia sentido, já que cotas só se justificam em regime de abundância.
Mas era a maneira de ressuscitar o velho modelo autárquico, que permitiu a meia dúzia de lideranças políticas a manipulação dos interesses do conjunto do setor.
No Brasil, a proposta foi bancada por um grupo de operadores de mercado especializado em grandes lances especulativos, visando dois ganhos. O primeiro, tentar manter artificialmente elevadas as cotações do café. O segundo, manter o controle sobre cotas e sobre recursos que seriam confiscados sobre cada saca de café exportada.
A história já ensinou que a manutenção de cotações artificialmente elevadas viabiliza a produção do café em regiões não-tradicionais, levando, no momento seguinte, a uma superoferta do produto. Foi o que ocorreu nos anos 80 e 90. O caminho para o Brasil seria a busca da produtividade, do valor adicionado, do investimento em marketing, de maneira a ganhar rentabilidade sem viabilizar a concorrência, por meio do aumento de preços.
Se a ministra aprovar esse retrocesso, o que se terá é previsível. Numa ponta, a tentativa de reinstituir o velho modelo, em que lideranças do setor arquitetavam em gabinetes oficiais lances que beneficiavam meia dúzia. Estão aí as operações ``Patrícia" e ``Zélia" para comprovar o estilo.
Do outro, a reação de parte expressiva do setor, que irá defender na Justiça seu direito de trabalhar sem protecionismo e sem interferência oficial.

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