São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Universal promete mostrar curas e depois se recusa a receber Folha

DA REPORTAGEM LOCAL

A Igreja Universal do Reino de Deus recuou de sua oferta à Folha, para que a reportagem do jornal acompanhasse um de seus cultos, denominado ``dia da cura".
A oferta foi feita pelo deputado federal Wagner Salustiano (PPB-SP), 39, no dia 8 de setembro. Ele é membro da Universal.
Em carta à Folha, o parlamentar escreveu: ``Milagres na Igreja Universal são coisas naturais. Temos o jornal `Folha Universal' com quase um milhão de exemplares que testifica os `impossíveis' ocorridos na Igreja Universal, com nomes, fotos etc., mas, mesmo assim, nos colocamos à disposição para acompanhá-los em verificações de veracidade dos fatos ali ocorridos e documentados".
A Folha publicou a carta de Salustiano em 14 de setembro. Desde o recebimento da correspondência, a reportagem fez vários contatos com o deputado e solicitou que ele marcasse data e horário para acompanhar um ``dia da cura".
O ``dia da cura" ocorre tradicionalmente às terças-feiras. Durante os cultos, fiéis são convidados a subir no altar e testemunhar alguma bênção recebida. As bênçãos variam da simples cura de uma dor de cabeça até a cura da Aids, segundo os depoimentos.
Logo em seguida à publicação de sua carta, quando foi contatado pela Folha, Salustiano fez um pedido à reportagem: ``Primeiro, gostaria que você conhecesse a igreja e como são as curas. Mas vá sem fotógrafos, assista apenas".
A Folha atendeu ao pedido do parlamentar, que se autoclassifica como ``líder político da Igreja Universal". No dia 19 de setembro, a reportagem foi até a Igreja Universal da av. Celso Garcia, no Brás (centro de São Paulo).
Cumprido esse ritual, a Folha telefonou para Wagner Salustiano para marcar uma data para realizar a reportagem. O parlamentar foi informado que o jornal levaria um fotógrafo e um médico para assistir um ``dia da cura".
Em 25 de setembro, Salustiano respondeu: ``Está pairando alguma desconfiança que não é boa para o nosso negócio".
Segundo o parlamentar, levar um médico ``vai constranger as pessoas". A Folha retrucou que ninguém seria entrevistado sem conceder permissão prévia.
Irritado, falando mais alto, Salustiano chegou a sugerir que não tinha mais interesse em manter seu convite à Folha. ``Se você quiser, publica que procurou o deputado e ele não quis atender. Pode publicar", disse Salustiano.
A reportagem da Folha argumentou que tinha muito interesse em realizar a reportagem. Salustiano pediu, então, para consultar alguma autoridade da Igreja Universal sobre a reportagem.
Desde o dia 25 de setembro houve uma sucessão de telefonemas diários da Folha ao deputado. Sempre sem a resposta, ele fez outra sugestão no dia 4 de outubro.
``Eu passo aí amanhã para falarmos pessoalmente. Por telefone é ruim", disse Salustiano. A Folha indagou se seria possível a reportagem. O parlamentar insistiu: ``Prefiro passar aí pessoalmente".
Até ontem, o deputado não havia comparecido à sede da Folha em São Paulo nem telefonado.

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