São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Clubes do Primeiro Mundo viram empresas

PAULO PLANET BUARQUE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tarefas são-paulinas levaram-nos a conhecer não no campo de jogo, mas na organização, alguns proeminentes clubes europeus: Manchester United, PSV Eindhoven, Paris Saint-Germain, Milan, Barcelona e Porto. Essas agremiações nos remeteram ao Terceiro Mundo do futebol.
Poderiam ser divididas entre as sociedades anônimas -portanto, empresas- que algumas são, nas quais o interesse dos acionistas é permanentemente considerado, inadmitidos os prejuízos que derrubam administradores ou diretores; ou simples sociedades civis, dirigidas por sócios eleitos, tal como sucede com nossas entidades. Nos dois casos, porém, as diferenças em relação a nós são abismais.
Começa que esses clubes são administrados por profissionais especializados e extremamente competentes, inclusive alguns ex-jogadores de nível profissional e cultural notórios. Seus orçamentos são incomparavelmente maiores que os de nossas entidades, produto não apenas de arrecadações sempre compensadoras, mas, principalmente, de patrocinadores importantes, além do marketing bem elaborado.
Seus estádios, proporcionais às cidades onde se encontram, com média de público nunca inferior à metade de sua capacidade, revelam luxo e conforto notadamente proporcionado aos seus associados mais importantes -os que pagam caro por camarotes ou poltronas estofadas. Em alguns deles, há restaurantes (em um caso, nada menos que seis) finíssimos, que servem durante os espetáculos.
Cultiva-se a paixão clubista que, não raro, não é apenas local, é regional, mesmo nacional. Do espetáculo futebolístico, faz-se sempre autêntico acontecimento, e a imprensa trata deles sempre com carinho e interesse. Não há, como às vezes aqui, o intuito crítico, deliberado, de sempre ver o ruim quando se sabe que sempre haverá o bom.
Os calendários são inteligentes e permanentes, o que permite a venda antecipada dos ingressos da temporada, inclusive com descontos para os associados que, tendo lugar reservado, pagam pelos assentos. Ninguém entra sem pagar!
À parte considerações sobre o valor das moedas, sabemos agora que as contratações a peso de ouro, que levam para a Europa nossos melhores valores, não são o produto de homens ricos, mas de sólidas estruturas empresariais que tratam o futebol com seriedade, sem compadrismo e colocando em primeiro lugar o público -que comparece e prestigia, porque tratado de forma conveniente.
Assim fará, uma vez mais de forma pioneira, o São Paulo, aproveitando a reforma modernizadora de seu estádio, cuja campanha começa agora com, certamente, a colaboração de são-paulinos em particular e dos demais torcedores em geral. Para que, uma vez mais, nossa cidade e o Estado tenham palco à altura da sua importância nacional. Mas estádio onde se cumpram as exigências da Fifa, com estacionamento amplo e, principalmente, conforto para os que para isso pagam.

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