São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995 |
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Editor descobre dicionário de Bilac
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Bilac entregou o manuscrito definitivo do ``Dicionário Analógico da Língua Portuguesa" à editora Laemmert, do Rio, no final de 1905, depois de duas décadas de trabalho. Se hoje estivesse vivo, com 130 anos de idade, Pe-Ho -um de seus muitos e bizarros pseudônimos- ainda ficaria na expectativa. O livro deve sair só no ano que vem, em versão fac-similar, pela editora Francisco Alves, proprietária da Laemmert. O manuscrito foi encontrado neste ano no acervo da Franciso Alves pelo empresário Carlos Leal, 38, dono da editora. Ao comprar a empresa de seus familiares, em maio de 1994, Leal fez uma pesquisa para verificar a lista de publicações da editora em 140 anos de atividades. ``Contei 5 mil títulos editados. Mas qual não foi minha surpresa ao achar um manuscrito de Bilac entre as obras inéditas." Eram 700 páginas em tamanho ofício preenchidas com a letra miúda do poeta parnasiano. Ao todo, 400 verbetes sobre idéias afins dos mais variados assuntos, de ``literatura" (leia trecho abaixo) e ``extravagância" ao ``lagar" (espécie de tanque em que se espremem frutas). O dicionário analógico difere do convencional por agrupar vocábulos associados indiretamente ao verbete. É o demônio da analogia preso e organizado. ``O de Bilac estava completo, com verbetes de A a Z. Em algumas entradas, ele colava recortes de jornal para complementar suas definições", descreve Leal. A princípio, pensou se tratar de um título publicado, talvez por outra editora. Pesquisou e concluiu que da bibliografia de Bilac só constava uma obra similar, o ``Dicionário de Versificação", feito por volta de 1904 em colaboração com o jornalista Guimarães Passos (1867-1909). Este volume veio à luz em 1913 e é um dos poucos itens mencionáveis no magro currículo de Passos, autor de ``Pimentões" (1904), coletânea de poemas jocosos, e do ``Tratado de Versificação" (1905). Perpetrou ambos em parceria com Bilac -ou Puck, conforme este assinou em ``Pimentões". Puck, Pif-Paf ou Brás Patife, o fato é que Leal concluiu que tinha nas mãos uma obra inédita do heteronímico Bilac. Na mesma prateleira empoeirada, encontrou um dicionário analógico em francês, com anotações marginais com a caligrafia do poeta. ``Foi a obra em que provavelmente se baseou para escrever a sua", diz o empresário. ``Ele levou a obra muito a sério. Adorava escarafunchar palavras em jornais, almanaques e dicionários." Passado o susto da exumação, Leal espera um patrocinador para agendar a edição da obra. Ainda não sabe resolver um enigma digno da decifração de Bilac, o de por que a obra não chegou a ir ao prelo. ``Não entendo a razão. Esse dicionário teria sido um volume fundamental para a formação da cultura brasileira." LEIA MAIS Sobre dicionário de Bilac à pág. 5-3 Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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