São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Oriente minimiza poderio chinês

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, com o acelerado crescimento econômico e mais investimentos na área militar, faz seus vizinhos temerem o fortalecimento de uma potência militar regional. Mas Filipinas e Austrália buscaram ontem afastar o medo de conflitos com Pequim, que nega ter pretensões expansionistas.
Relatório divulgado na terça-feira pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres, diz que a República Popular da China gasta cerca de US$ 28 bilhões por ano com seu sistema de defesa (leia texto abaixo).
"A Ásia está muito preocupada com seu desenvolvimento econômico e não vai perder recursos em guerras por territórios", declarou o chanceler filipino, Domingo Siazon. O primeiro-ministro australiano, Paul Keating, disse que "não há motivos para temer" o crescente poderio chinês.
A espada, no entanto, está mais próxima de Taiwan. Seu presidente, Lee Teng-hui, afirmou na semana passada que a China representa "uma grande ameaça" à região Ásia-Pacífico e enfatizou a necessidade de seu país investir mais em defesa.
Taiwan representa o refúgio encontrado pelos nacionalistas em 1949, depois da derrota para os comunistas na guerra civil. Os dois falam em reunificação, mas não admitem abrir mão do poder.
Os nacionalistas de Taiwan argumentam que querem voltar a governar em Pequim. Mas existe na ilha um crescente movimento pela independência, ou seja, pela ruptura de laços com o continente.
A China já deixou claro: se Taiwan declarar independência, responderá com uma invasão. Em julho e agosto, realizou exercícios militares e testes com mísseis, numa demonstração de força à "ilha rebelde".
Uma visita de Lee Teng-hui aos EUA, neste ano, fez com que a China passasse a temer uma maior aproximação entre Taiwan e os Estados Unidos.
O presidente chinês, Jiang Zemin, coloca a recuperação de Taiwan como uma das prioridades de seu governo.
Ele acredita que tal triunfo lhe garantiria um lugar na história, ao lado de dirigentes comunistas como Deng Xiaoping, responsável pelas negociações que acertaram a devolução de Hong Kong. A colônia britânica volta ao controle de Pequim em 1997 e deverá manter seu sistema capitalista.
Embora Taiwan desponte como principal foco de tensão militar na região, outros países tomam precauções. O Vietnã, por exemplo, usava o apoio da ex-URSS para se proteger do vizinho chinês.
Hoje, ensaia aproximação com um ex-inimigo, os EUA, em busca de um protetor contra a ameaça que vem de Pequim. Vietnamitas e chineses mostram interesse pelas reservas de petróleo das ilhas Spratly.
A Austrália busca mostrar tranquilidade na retórica diplomática, mas realiza exercícios militares frequentes para se preparar contra uma eventual invasão que venha do norte. Em agosto, organizou uma série batizada de Canguru 95.

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