São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Santa perplexidade

JUCA KFOURI
SANTA PERPLEXIDADE

Dizem que à medida que o tempo passa nada mais surpreende. Pode ser. Mas, como sempre, há exceções.
Há, por exemplo, aqueles que nunca perdem a capacidade de se indignar e esses são, parodiando Brecht, imprescindíveis. Como há os que, por mais que já tenham vivido e visto, são capazes de reconhecer o novo e aderir.
A introdução -em jargão jornalístico, ``nariz de cera", algo que deve ser evitado- se justifica em função do artigo que Paulo Planet Buarque publicou nesta Folha na sexta-feira passada.
Planet foi elegante comentarista esportivo nos áureos tempos da TV Record nos anos 50 e um dos redatores do plano traçado para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958, na Suécia -a primeira vencida pelo Brasil.
Em 1970, narrou para a TV mexicana, em espanhol, é claro, os jogos da campanha do tri. E durante muito tempo manteve uma coluna em ``A Gazeta Esportiva", numa época em que, diferentemente de hoje em dia, o jornal se orgulhava de ser o ``diário oficial do futebol".
Planet, ao contrário, sempre manteve sua independência e, apesar de politicamente conservador, era um permanente sopro de modernidade ao opinar.
Conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo e são-paulino militante, Planet foi à Europa dar uma olhada no que poderia aproveitar neste momento em que o Morumbi passa por reformas profundas. Morumbi que é um símbolo perfeito do futebol brasileiro, lindo para se ver, podre por dentro.
Planet voltou maravilhado. As diferenças entre os clubes europeus e os brasileiros são ``abismais", escreveu. Abismais. Se um abismo nos distancia, do precipício fomos ao fundo do poço. E haja lama.
Os clubes europeus ``são administrados por profissionais", ``os calendários são inteligentes", ``e ,à parte considerações sobre o valor das moedas, sabemos agora que as contratações a peso de ouro, que levam nossos melhores valores, não são o produto de homens ricos, mas de sólidas estruturas empresariais que tratam o futebol com seriedade, sem compadrio e colocando em primeiro lugar o público", admirou-se nosso experiente viajante.
É isso, Planet. Pena que o Morumbi não vá se transformar na maravilha que você prega enquanto nosso futebol não for dirigido por profissionais, com calendário inteligente e voltado para o torcedor.
Mas bem-vindo ao bloco e obrigado.

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