São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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Reforma administrativa; Agressão religiosa; Neonazismo; Professores

Reforma administrativa
``A Folha de 15/10 revela que no Brasil os funcionários públicos representam 9,4% da população economicamente ativa, enquanto que no Reino Unido eles são 21%, nos EUA, 15,5% e na França, 23%. Esses números desmentem a idéia normalmente propagada de que no Brasil existe um excesso de funcionários públicos. Na realidade, os baixos salários (na grande maioria dos casos), má distribuição de pessoal, clientelismo político e falta de uma política competente de recursos humanos são responsáveis pela má qualidade dos serviços prestados à população. Querer fazer a reforma administrativa apenas para poder diminuir o já escasso número de funcionários públicos (comparativamente aos países da Europa Ocidental, EUA e Japão) para um país com tantas carências sociais certamente irá piorar a vida da maioria dos brasileiros, especialmente dos mais pobres."
Oded Grajew, coordenador-geral da Cives -Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (São Paulo, SP)

``Estabilidade e concursos públicos não podem apenas ser considerados questões de direito adquirido, mas principalmente de direito da sociedade, que quer ser conduzida por um Estado submetido aos princípios constitucionais da moralidade, impessoalidade, legalidade e publicidade em todas as ações de governo. Por outro lado, o PT não defende a configuração atual do Estado, por cuja estrutura não tem nenhuma responsabilidade, mas tem convicção de que a crise fiscal que se pretende solucionar não se resolverá pela simples demissão de funcionários, inclusive porque permanecerá intocado pela proposta Bresser o chamado `núcleo estratégico', que não terá sua estabilidade alterada. A medida correta a ser tomada no caso é, principalmente, a recuperação da Receita por meio de instrumentos que se colocam no campo da reforma tributária. Quanto à reforma do Estado (e não somente administrativa), há um forte consenso no que se refere à perspectiva de reformá-lo `in totum', a exemplo do que já fazem nossas administrações municipais, com o exercício do orçamento participativo, a fim de ampliar os instrumentos de controle social na administração pública. As reformas possíveis e necessárias passam por profissionalização do serviço público, ampliação dos espaços de participação e controle social na administração pública, planejamento das ações de governo e atendimento aos princípios constitucionais."
Telma de Souza, deputada federal pelo PT-SP e Milton Temer, deputado federal pelo PT-RJ (Brasília, DF)

Agressão religiosa
``O bispo Edir Macedo, ao pedir perdão pelo gesto mesquinho de seu comparsa, deve ter, na expressão mineira, `engolido três imensos sapos': o de ter que apresentar retratação; o de reconhecer o fanatismo doentio de seus adeptos e, sobretudo, o de reconhecer que uma agressão à Nossa Senhora Aparecida atinge `todo o povo brasileiro'."
Amir Salomão Jacób (Sacramento, MG)

``Nós, mulheres, milenarmente excluídas na cidade e nos campos, católicas, budistas, judias, umbandistas, muçulmanas, evangelistas etc. e sem religião, repudiamos a intolerância do pastor Von Elder diante do direito universal de ter ou não uma expressão religiosa."
Maria Aparecida de Laia, presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina (São Paulo, SP)

``Acho que esse cidadão da Igreja Universal ultrajou não só a fé do povo brasileiro, como também o Brasil, que tem nela a sua padroeira. Acho que d. Paulo Evaristo Arns e d. Aloísio Lorscheider deixaram de tomar uma atitude condizente com os postos que ocupam, pois poderiam revidar à atitude daquele cidadão."
José Biatti (São Paulo, SP)

Neonazismo
``A propósito do artigo `Tolerar a intolerância' (6/10), do jornalista Hélio Schwartsman, gostaria de fazer duas observações: 1) não me parece correto afirmar que: `Não foram as antes insignificantes publicações ligadas ao Partido Nazista (NSDAP), como o Võlkischer Beobachter, que deram notoriedade ao obscuro cabo e pintor...'. Essas publicações não foram insignificantes, mas contribuíram para criar a intertextualidade do cenário nazista; se não `deram notoriedade' a Hitler, constituíram veículos para a divulgação do ideário nazista e, particularmente, do anti-semitismo. O articulista certamente deve saber que, para a reorganização e o engrandecimento do partido nazista, Hitler considerou fundamental dotar a agremiação de um jornal: assim, o inexpressivo Võlkischer Beobachter (`O Observador Racista') tornou-se o órgão oficial do partido nazista, chegando a atingir a tiragem de quase 2 milhões de exemplares. 2) Outras afirmações surpreenderam-me pela superficialidade da análise: `Enquanto idiotas produzirem obras idiotas consumidas na maioria das vezes por uns poucos idiotas, o melhor a fazer é deixá-los em paz em sua idiotia, sob pena de que consigam atrair outros idiotas...' e `Muitas vezes o ovo da serpente, o ódio racial, está fadado a gorar...'. Pois bem, o livro de Paul Hockenos, `Livres para Odiar' (Scritta, 95), atualizada descrição do neonazismo na Europa, parece contrariar frontalmente as idéias de Schwartsman, pois mostra claramente que os chamados `idiotas' não são tão poucos assim e ainda que o ovo da serpente não está tão fadado a gorar. Fica claro, no livro, que o nazismo não morreu com Hitler, mas continua vivo e produtivo, gerando muitos filhotes. E essa proliferação vai sendo alimentada por textos, discursos, palavras -as mesmas palavras que tornaram possível a construção de Auschwitz."
Izidoro Blikstein (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Hélio Schwartsman - Como bom semiólogo, o professor Blikstein deveria ter notado que escrevi ``antes inexpressivos". É evidente que, com o crescimento do NSADP, o jornal aumentou sua circulação. Não ignoro o problema do neonazismo que, aliás, reputo muito sério, na Europa. Fest elenca entre as características psicológicas do ditador o que ele classifica de ``racismo balcânico" (cego e irracional). Esse elemento que possibilitou o fenômeno do nazismo felizmente inexiste no Brasil, o que é típico das nações de imigração.

Professores
``No dito `Dia dos Professores' (15 de outubro) não tivemos nada a comemorar. A não ser o arrocho no salário, a falta de consideração (tanto da sociedade quanto do governo) e a falta de investimento em nossa área. E a esperança de dias felizes."
Mário Grego (São Paulo, SP)

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