São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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A marcha dos negros

A grande manifestação dos negros, ocorrida em Washington, emite preocupantes sinais de um certo anacronismo no trato das tensões raciais na sociedade americana.
O ato, antes de tudo, serviu de suporte à ascensão de um líder da comunidade negra, Louis Farrakhan. Parece assim reincidir no velho equívoco de vincular as justas aspirações de um movimento político à figura de um líder carismático -estratégia centralizadora que historicamente tem produzido muito mais mártires do que soluções.
Além disso, o organizador da marcha realiza uma indesejada promiscuidade entre as esferas política e religiosa, que tradicionalmente tem se mostrado propícia à deletéria fabricação de pseudoprofetas e supostos redentores das massas.
Por fim, Farrakhan reedita um discurso dogmático que idealiza uma absoluta independência dos negros para cuidar de seus problemas e ao mesmo tempo bate forte em outras minorias -sociais e étnicas- e outros grupos religiosos. Cria assim, no "establishment", uma animosidade que já no passado dificultou sobremaneira a superação do estigma racial que tanto vitima hoje os negros na sociedade norte-americana.
Ao produzir o maior evento étnico dos últimos 30 anos nos EUA, a comunidade demonstra extraordinária vitalidade e força de aglutinação. Persiste, porém, o desafio de encontrar caminhos políticos melhor sintonizados com a história.

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