São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Comunidade de japoneses formam elite em São Paulo

BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 19/10/95
Título à pág. Especial-10 ( Brasil/Japão 100 anos) da edição de hoje contém um erro de concordância verbal. O título correto é "Comunidade de japoneses forma elite em São Paulo".
Os descendentes de japoneses formam uma elite na cidade de São Paulo. São mais instruídos e ganham salários mais altos que a média da população.
Pesquisa Datafolha realizada em agosto entre japoneses e descendentes em São Paulo mostra a existência de mais mulheres (53%) que homens (47%). Do total pesquisado, a maioria é jovem: 64% têm entre 16 e 40 anos.
Na comunidade, 53% têm formação de nível superior. Na capital paulista, a renda familiar de 49% dos japoneses e seus descendentes supera 20 salários mínimos e apenas 20%, até 10 mínimos.
Segundo pesquisa da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), feita em 1994, somente 30,1% das famílias que moram na região metropolitana de São Paulo possuem renda de 10 salários mínimos ou mais; 26,1% têm renda de 5 a 10 mínimos e 43,8%, de até 5 mínimos.
Quanto ao nível de instrução, os números da Seade mostram que somente 9,4% dos moradores da região metropolitana fizeram curso superior, 64,5% não chegaram a completar o 1º grau e 10,7% têm 2º grau completo.
Veja o exemplo da família Kuiwabara. Desde o primeiro imigrante até a terceira geração de descendentes, a passagem pela universidade tem sido obrigatória.
Jiro Kuwabara tinha 14 anos quando chegou a Santos (SP) em 1929. Desembarcou após passar 47 dias num navio, dividindo a água de beber com as mudas de poncã que trouxe na mala. Do porto, foi para Bastos (SP), trabalhar na lavoura com outros japoneses.
Jiro, que já havia terminado o 1º grau no Japão, mudou-se para São Paulo a fim de cursar o 2º grau. Depois, fez o curso de contabilidade na então Escola de Comércio Álvares Penteado, trabalhando ao mesmo tempo como balconista em uma loja de louças e ferragens.
Terminou a faculdade de economia em 41, mesmo ano em que se casou com a japonesa Thereza.
Jiro trabalhou como economista em uma empresa que fechou após a Segunda Guerra Mundial. Montou então uma agência de turismo.
“Por conta da agência, viajei várias vezes ao Japão, mas nunca pensei em voltar a morar lá, porque me acostumei com o Brasil.”
Jiro e Thereza, 75, tiveram cinco filhos. Todos fizeram faculdade. Os netos de Jiro também estão cursando a universidade ou se preparando para o vestibular.
Um dos filhos de Jiro, Mário Kuwabara, 45, é formado em administração de empresa e publicidade. Fez especialização em marketing em Nova York e trabalha com comércio de café.
Mário já viajou várias vezes ao Japão a negócios. Sua mulher, Margarida, também descendente de japoneses, é formada em relações-públicas e visitou o Japão duas vezes.
Os dois, católicos, colocaram os filhos, Flávia, 15, e Eric, 14, no colégio Santo Américo. Eles costumam acompanhar os pais nas duas viagens anuais que fazem ao exterior, mas não conhecem o Japão. “Não gostaria de morar lá. O espaço é apertado, a concorrência é muito forte e eles são muito fechados”, diz Margarida.
A pesquisa Datafolha constatou que 67% dos descendentes consideram a vida no Brasil melhor que no Japão. A razão principal apontada é o calor humano (18%).
Na pesquisa, 81% disseram não ter intenção de viver no Japão, contra 13% que pretendem morar lá. Já foram ao Japão pelo menos uma vez 28% dos descendentes que vivem em São Paulo.

METODOLOGIA - A pesquisa do Datafolha é um levantamento estatístico por amostragem estratificada por sexo e idade da população japonesa das cidades de São Paulo e Curitiba. Nesse levantamento, realizado nos dias 15 e 16 de agosto, foram entrevistadas 176 pessoas em Curitiba e 312 em São Paulo. A margem de erro é de oito pontos percentuais para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de 95%. A direção do Datafolha é exercida pelos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi.

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