São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Amplidão do Metropolitan prejudica shows

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

O 10º Free Jazz não merecia, em sua edição carioca, um presente de aniversário tão grego. Seu novo pouso, o Metropolitan, é um Canecão com elefantíase, brega como Las Vegas e frio como um anfiteatro na Sibéria. Não é bom lugar para jazz. Sua amplidão e sua proximidade com a sociedade emergente da Barra da Tijuca podem ser fatais para a integridade musical do Free. O que tivemos na noite de abertura foi de assustar.
O quinteto do jovem trompetista Roy Hargrove, vibrante em gravações, não conseguiu esquentar o ambiente. Embora genuinamente jazzístico e competente, deixou no ar a impressão de "déjà entendu" -e não apenas quando ressuscitou o clássico de Hoagy Carmichael, "The Nearness of You". A imensidão do ambiente não lhe fez bem ou justiça. Saíram sem bis após 45 minutos, um dos mais curtos shows da história do Free Jazz. Melhor ouvir em casa seu último CD, "Family", de onde boa parte das músicas foi extraída.
Há muito que o tecladista fusion George Duke não dá mais a impressão de haver despertado para a música indo a um concerto de Duke Ellington quando tinha seis anos. Entregou-se de corpo, alma e talão de cheque à musak soul e à dance music, virou um malabarista do sintetizador. Formou um par perfeito com Rachelle Ferrell, a nova musa dos jazzmaníacos descolados. A moça tem sem dúvida recursos vocais impressionantes (seis oitavas e meia!), e como os emergentes adoram virtuosos, ela abafou com suas caretas e scats. É um misto de Sarah Vaughan, Nina Simone, Yma Sumac e Al Jarreau. Como diria Celia Cruz, prefiro Doris Day.
Numa noite exclusivamente de artistas negros, os últimos acabaram sendo os primeiros. Quem mais brilhou foi o pastor Al Green, que ganhou logo o apelido de pastora e All Gay. Jogando flores para a platéia, em poucos minutos transformou o Metropolitan num delirante templo da Motown.
Como que movido a anfetaminas celestiais, cantou e dançou além do que sua idade permite, descendo duas ou três vezes até o auditório. Gospel, soul, rhythm & blues -é bastante ecumênica a pastoral musical de Al Green, cria de Arkansas, que cresceu em Michigan e parece ter seu coração voltado para Memphis e Georgia. E sobretudo para a década de 70.
Faz cover de Otis Redding, homenageia Marvin Gaye, mas o forte de seus espetáculos são mesmo aquelas músicas que falam de Jesus. Com "Amazing Grace", conquistou uma legião de fiéis.

Texto Anterior: Madonna deve lançar autobiografia em maio; Autor de 'O Mundo de Sofia' escreve novo livro; Nyman se inspira em textos do século 16; Bowie é acusado de roubar cenas de show
Próximo Texto: Celia e Tito transformam primeira noite em baile
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.